Dados do Trabalho
TÍTULO
VARIAÇAO DO NICHO ISOTOPICO DO MARSUPIAL GENERALISTA MARMOSA PARAGUAYANA (TATE, 1931) EM REMANESCENTES COSTEIROS DA MATA ATLANTICA
Resumo
A amplitude do nicho trófico de uma população pode se expandir quando a disponibilidade de certos recursos alimentares for baixa, favorecendo hábitos generalistas, ou contrair quando a disponibilidade destes recursos for alta, favorecendo hábitos especialistas. Marsupiais didelfídeos estão entre os mamíferos com maior flexibilidade alimentar na América do Sul, podendo se alimentar de artrópodes, pequenos vertebrados, frutos e/ou sementes. Devido a esta flexibilidade, as dietas de populações de marsupiais e seus níveis tróficos na teia alimentar podem variar de acordo com os recursos locais. As análises de isótopos estáveis de nitrogênio (δ15N) e carbono (δ13C) elucidam as relações tróficas de mamíferos. O δ13C indica a fonte dos itens alimentares de produtores primários com diferentes vias fotossintéticas (plantas C3 ou C4), e o δ15N estima a posição trófica do organismo. Ambos os eixos isotópicos fornecem informação sobre duas dimensões do nicho trófico, medindo a sobreposição trófica e áreas de forrageamento. Neste estudo, o nicho isotópico da cuíca Marmosa paraguayana foi avaliado em duas fitofisionomias de Mata Atlântica: restinga (RES) e floresta estacional semidecidual (FES). Como a comunidade de plantas em RES é menos diversa que em FES, hipotetiza-se que o nicho isotópico varia entre as fitofisionomias devido às diferenças na disponibilidade de alimentos em cada tipo de habitat, segundo a Teoria do Forrageamento Ótimo (TFO). Foram consideradas amostras de pelos coletadas na coleção científica de mamíferos do NUPEM/UFRJ de 46 indivíduos, sendo eles oriundos de cinco manchas de habitat em RES e quatro em FES localizadas no norte do Estado do Rio de Janeiro. O nicho isotópico dos indivíduos foi gerado utilizando o pacote SIBER do R (os valores entre locais foram corrigidos por uma linha de base das plantas consumidas). Diferenças entre “fitofisionomias” e “manchas de habitat” foram avaliadas por PERMANOVA. Os resultados não evidenciaram diferenças significativas entre “fitofisionomias”, apenas entre “manchas de habitat”. Os nichos isotópicos da cuíca em diferentes manchas se sobrepuseram extensivamente, exceto para a localidade de Itapebussus, com média 4x menor do que a média geral (todos os dados: 4,91 ± 1,7; Itapebussus: 1,14 ± 0,7). As fitofisionomias diferiram na amplitude de nicho; RES (razão: 2,92 ≤ SEAc ≤ 4,97) e FES (1,22 ≤ SEAc ≤ 1,78). As populações que habitam diferentes fitofisionomias diferiram consideravelmente na amplitude de nicho, apesar da extensa sobreposição de seus nichos isotópicos. A TFO prevê que em circunstâncias de escassez de recursos alimentares preferenciais, os indivíduos tendem a buscar maior variedade de itens para suprirem suas necessidades fisiológicas. A diferença de amplitude de nicho pode refletir a menor abundância ou ausência de certos recursos na RES, uma vez que esta constitui um subconjunto da FES em termos florísticos e faunísticos. Sob esta perspectiva, os indivíduos na RES adotariam a estratégia de buscar maior diversidade de alimentos para manterem suas chances de sobrevivência e reprodução similares à FES.
Palavras-chave
nicho trófico, fitofisionomias, subpopulações, Teoria do Forrageamento Ótimo
Área
Ecologia
Autores
Hudson de Macedo Lemos, Patrícia Luciano Mancini, Luciano Gomes Fischer, Stephane Gomes Batista, Pablo Rodrigues Gonçalves