X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

REPASTO SANGUINEO EM HUMANOS POR MORCEGOS HEMATOFAGOS (DESMODUS ROTUNDUS) EM UMA COMUNIDADE NA AREA URBANA DO RECIFE, PERNAMBUCO

Resumo

Os morcegos hematófagos pertencem à família Phyllostomidae, são representados pelas espécies Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus youngi e ocorrem apenas na América Latina. Cães, animais de zoológicos, pequenos animais de quintal e humanos são fontes potenciais de alimento para morcegos hematófagos em áreas urbanas. Porém, quase todos os relatos de agressão humana e raiva humana causados por morcegos hematófagos estão relacionados a espécie D. rotundus e geralmente estão associados a desequilíbrios ambientais. Diante disso, relata-se um surto de agressão a humanos na cidade do Recife por D. rotundus. Em 21 de março de 2006 foram reportados ao Centro de Vigilância Ambiental do Recife casos de pessoas agredidas por roedores no conjunto habitacional Cafezópolis, bairro de Imbiribeira. Realizada uma investigação no local, verificou-se que os ferimentos na realidade eram provocados por morcegos hematófagos. Foram registradas mais de 20 pessoas agredidas e todas as pessoas agredidas foram encaminhadas as Policlínicas para realizarem o tratamento profilático contra o vírus da raiva. Redes de neblina foram armadas em área próxima às residências onde ocorreram as agressões, resultando na captura de um D. rotundus que recebeu pasta à base de warfarina e foi solto em seguida. Após investigação no bairro, uma colônia foi encontrada próximo a comunidade Irmã Dorothy (8°06'09.8"S; 34°54'24.6"W) com aproximadamente 30 D. rotundus, em um frigorífico abandonado há mais de 30 anos, distando cerca de um quilômetro do local dos ataques. O morcego que recebeu pasta na captura realizada nos arredores da Cafezópolis foi encontrado na colônia, confirmando o local de origem dos morcegos. No abrigo foram capturados cinco indivíduos, dois foram enviados ao laboratório para diagnóstico rábico e três receberam pasta vampiricida e foram liberados no abrigo, que foi isolado com tapumes de madeira. Segundo moradores, cerca de 30 dias antes dos ataques, criatórios locais de bovinos, suínos, caprinos e aves, potenciais fontes de alimento para hematófagos, foram desativados pela Secretaria de Saúde. Aparentemente não houve sucesso na eliminação total da colônia e apesar de o prédio ter passado por incêndios ao longo dos últimos 13 anos, uma população de pouco mais de 20 D. rotundus ainda ocupa a edificação, sem novos registros de ataques a humanos. Moradores da comunidade Irmã Dorothy relataram que a presença dos hematófagos sempre foi constante no frigorífico. Mesmo após as intervenções de controle, podemos sugerir que a colônia pode ter se mantido resiliente, ou um novo grupo ocupou o local. Atualmente na área, foram identificados pequenos criatórios de caprinos, suínos e equinos. Este relato reforça o risco de transmissão do vírus da raiva no estreitamento da relação entre morcegos hematófagos e a população humana, ademais quando envolve um aparente desequilíbrio na disponibilidade de recursos alimentares. Morcegos hematófagos não são comuns em áreas urbanas e a destruição de seus abrigos naturais pode facilitar o seu deslocamento para áreas antropizadas ocupando edificações humanas como refúgios alternativos. A disponibilidade de alimento, principalmente criatórios, garante a permanência das populações nesses locais, sobretudo, espécies capazes de se adaptar a modificações ambientais.


Palavras-chave

morcegos urbanos, quirópteros, hematofagia, raiva


Área

Parasitologia/Epidemiologia

Autores

Emmanuel Messias Vilar, Maria Luisa Melo Coelho Costa, Jurandir Alves Almeida-Júnior, Luiz Augustinho Menezes Silva, Carlos Alberto Cavalcanti Valença, João Alves Nascimento-Júnior, Pedro Cordeiro Estrela, Jean Carlos Ramos Silva