X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

ALTERAÇAO DA CONDIÇAO CORPORAL EM POPULAÇOES DE MORCEGOS FILOSTOMIDEOS (PHYLLOSTOMIDAE: CHIROPTERA) EM REMANESCENTES FLORESTAIS URBANOS DE JOAO PESSOA-PB

Resumo

As mudanças antrópicas expõem os organismos a novas circunstâncias ambientais, levando muitas vezes à redução da riqueza e abundância de espécies, principalmente nas áreas urbanas. Sabe-se que esses efeitos podem atuar sobre diversas escalas da diversidade biológica, podendo provocar desde a perda de serviços ecossistêmicos, alterações nos padrões morfológicos e de atividade de populações urbanas até a extinção de espécies. Neste estudo, avaliamos o efeito do grau de urbanização sobre a condição corporal das populações de quatro espécies de morcegos da família Phyllostomidae (Artibeus planirostris, Carollia perspicillata, Dermanura cinerea e Phyllostomus discolor) de áreas de Mata Atlântica circundadas por matrizes (urbana, periurbana e agrícola) com distintos tipos de perturbação antrópica. As amostragens dos morcegos foram realizadas de 2012 a 2016, nos fragmentos da Reserva Biológica Guaribas: SEMA I e II (março de 2014 – abril de 2015), SEMA III (abril de 2012 a março de 2013), e em fragmentos urbanos inseridos na Região Metropolitana de João Pessoa (RMJP) - Municípios de João Pessoa e Cabedelo (novembro de 2014 a maio de 2016). Além dos fragmentos na RMJP, foram realizadas 10 noites de amostragem em casas no perímetro urbano. Utilizamos dados de peso e comprimento do antebraço de 1.857 indivíduos capturados em todas as áreas de estudo para estimar os índices de condição corporal -ICC (razão simples e fator da condição relativa de Le Cren) como um proxy da reserva energética. As variações do ICC das espécies foram verificadas através do teste de análise de variância (ANOVA) de três fatores, para determinar a diferença do ICC entre os ambientes (matrizes agrícola, periurbana e urbana), entre os sexos (macho e fêmea) e sazonalmente (período seco e chuvoso). Dentre as quatro espécies analisadas, apenas duas (A. planirostris e C. perspicillata) apresentaram efeito significativo nas variáveis avaliadas. Observamos que A. planirostris apresentou ICC significativamente inferior na matriz urbana (F-value: 64.203; p<0.001) e mais elevado nas fêmeas (F-value: 36.715; p<0.01) e no período chuvoso (F-value: 8.612; p<0.003). Para C. perspicillata, o ICC também foi inferior na matriz urbana (F-value: 10.863; p<0.001). Nossos resultados indicam que a urbanização pode afetar negativamente a obtenção de reserva energética de populações de morcegos em áreas urbanas de maneira espécie-específica, mesmo as populações de espécies mais tolerantes a ambientes antropizados, como A. planirostris e C. perspicillata. As populações destas espécies provavelmente são residentes, permanecendo na cidade sem se deslocar para áreas do entorno. A capacidade de A. planirostris e C. perspicillata suportarem as condições antrópicas mesmo com ICC inferior pode ocorrer devido a plasticidade fenotípica ou adaptação. As diferenças em relação ao sexo podem ter ocorrido devido as distintas estratégias reprodutivas de cada espécie e as diferenças de sazonalidade pela maior oferta de recursos durante o período chuvoso. Baseado na medida da reserva energética, este estudo traz informações fundamentais a respeito de como algumas espécies de morcegos respondem de forma variada aos efeitos antrópicos. Com isto, sugerimos que futuros trabalhos sobre impactos antrópicos sob populações em ambientes antropizados abordem questões a respeito de plasticidade fenotípica e adaptação nestes ambientes.


Palavras-chave

Adaptação; Índice de Condição Corporal; Mudanças Antrópicas; Urbanização


Área

Ecologia

Autores

Jeanneson Sales, Hannah Nunes, Emmanuel Messias Vilar, Fabiana Lopes Rocha, Pedro Cordeiro-Estrela