X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

O PASSADO COMO CHAVE PARA O PRESENTE: ESTIMANDO EXTINÇOES ATUAIS DOS PORCOS-DO-MATO NA MATA ATLANTICA BRASILEIRA A PARTIR DE REGISTROS HISTORICOS

Resumo

As extinções modernas foram documentadas nos últimos 500 anos e a causa mais evidente da perda de biodiversidade é a interferência humana. Em uma das florestas tropicais mais diversificadas e ameaçadas do mundo, a Mata Atlântica, queixadas (Tayassu pecari) e catetos (Pecari tajacu) têm sofrido com alterações severas em suas áreas de distribuição, como o desmatamento, o desenvolvimento agrícola e a urbanização. Algumas extinções locais já foram identificadas em toda a extensão da desse bioma, mas o padrão de ocorrência e as extinções locais das espécies ainda não são bem compreendidas. Neste estudo, estimamos a probabilidade de extinção regional do cateto e queixada em toda a Mata Atlântica, investigando como eles respondem espacialmente a diferentes variáveis: cobertura de área protegida, porcentagem de cobertura de floresta, densidade populacional humana, presença da espécie invasora javali (Sus scrofa) e o tempo decorrido entre o último registro histórico e atual. Para tanto, combinamos registros históricos de detecção e registros recentes de detecção e não detecção em modelos de ocupação, os quais foram obtidos por meio de levantamento bibliográficos e entrevista com especialistas e gestores de áreas protegidas. Consideramos o parâmetro de ocupação como o equivalente ao complemento da probabilidade de extinção local e dividimos a Mata Atlântica em 592 células, onde apenas aquelas em que se obteve registros históricos e registros recentes foram utilizadas. Os dados foram estatisticamente analisados utilizando o software Presence v.12.17. Os resultados das análises mostram que o queixada possui, em média, 46% de probabilidade de extinção na Mata Atlântica, em contraste com apenas 4% de probabilidade de extinção para o cateto. O tempo decorrido desde o último registro histórico, e a densidade populacional humana foram as variáveis determinantes para aumentar as probabilidades de extinção para o queixada e para o cateto, respectivamente. Por outro lado, as áreas protegidas representaram uma variável positiva na ocupação de ambas espécies, provavelmente devido à maior disponibilidade de recursos e habitats. Nossos estudos indicam que o queixada está consideravelmente em maior risco de extinção que o cateto na Mata Atlântica, principalmente em algumas regiões específicas, como o extremo nordeste brasileiro, norte da Bahia, centro-sul do Espírito Santo, sul do Rio de Janeiro e nordeste do Rio Grande do Sul. Uma vez que o queixada encontra-se listado como “Criticamente em Perigo” e o cateto como “Quase Ameaçado” para a Mata Atlântica, a grande discrepância das probabilidades de extinção entre as duas espécies, nos alerta sobre a crítica vulnerabilidade do queixada para esse bioma e indica, especificamente, as áreas de contração da sua distribuição original. Este estudo, ao identificar áreas com alto risco de extinção da espécie na Mata Atlântica, se torna um novo instrumento de manejo de populações de queixadas, com o uso de medidas de conservação preventivas e eficazes, para antecipar perdas futuras de populações, antes que se tornem severas.

Palavras-chave

Conservação, Floresta Tropical, Ocupação, Pecarídeos

Financiamento

Este estudo foi financiado em parte pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) - Código Financeiro 001 - e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Área

Ecologia

Autores

Fabiana Mendonça Cruz, Danielle Oliveira Moreira, Poliana Mendes, Sérgio Lucena Mendes