Dados do Trabalho
TÍTULO
HOTSPOTS E HOT MOMENTS DE ATROPELAMENTOS DE TATU-GALINHA (DASYPUS NOVEMCINCTUS) NA RODOVIA BR-101/NORTE RJ, BRASIL.
Resumo
A morte de animais silvestres ocasionada pela colisão com veículos automotores é um dos maiores impactos a espécies de vertebrados terrestres em áreas antropizadas. Visando mitigar esses impactos, é importante entender os fenômenos que resultam em padrões espaço-temporais ligados à mortalidade de espécies causada por atropelamentos. A sazonalidade e espacialidade das ocorrências estão relacionadas com a forma como os animais se distribuem no tempo e no espaço ao longo da paisagem cortada pela rodovia, portanto são importantes indicadores dos períodos (hot moments) e localidades (hotspots) com maior concentração de fatalidades. Nesse contexto, Dasypus novemcinctus, conhecido popularmente como tatu-galinha, pertencente à Ordem Cingulata, por ser uma espécie abundante e também representativa de outros táxons com funções ecológicas semelhantes no ambiente, pode ser utilizada como indicadora do impacto que espécies correlatas sofrem. Diversos estudos apontam os tatus (família Dasypodidae) como um dos grupos mais afetados pelo atropelamento de fauna em rodovias da maioria dos Biomas brasileiros. Neste trabalho, buscamos identificar os hotspots e hot moments de atropelamentos de tatu-galinha na rodovia BR-101/Norte RJ. O estudo foi realizado a partir de monitoramentos com o uso de um veículo automotor a velocidade média de 50 km/h, percorrendo a rodovia BR-101 do km 0 (divisa entre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo) ao 322 (Niterói), em ambos os sentidos. Os monitoramentos foram feitos em campanhas mensais de amostragem entre 2013 e 2018. Com base nesses seis anos de monitoramento, foram registrados 38 espécimes de tatu-galinha atropelados. O banco de dados foi organizado anualmente, mensalmente, sazonalmente (primavera, verão, outono, inverno/seca e chuvosa), e espacialmente (coordenadas geográficas/marcos quilométricos), sendo os mesmos tratados estatisticamente nos softwares R v.3.5.1 e Siriema v2.0. A partir dos resultados dos testes de Mann-Whitney (entre as duas estações climáticas tropicais) e de Kruskall-Wallis (mês-a-mês; e entre as quatro estações climáticas tradicionais), considerando os anos como réplicas amostrais, precedidos de testes de normalidade, foi constatada diferença significativa apenas entre os registros da estação chuvosa em relação à seca (p = 0,006). No que tange a espacialidade, as análises de mapeamento dos hotspots apontaram a existência de um trecho com agregação significativa dos atropelamentos localizada nas proximidades do km 214. A identificação de um hotspot nesse trecho, reforça as evidências que regiões onde as rodovias se encontram próximas a unidades de conservação de proteção integral, apresentam maior probabilidade de ocorrência de atropelamentos de animais, pois nesse caso a rodovia, margeia o limite norte da Reserva Biológica Poço das Antas. Este resultado corrobora a tendência de grandes áreas de vegetação nativa abrigarem populações silvestres maiores, e consequentemente elevar a propensão de atropelamentos. Além disso, o hot moment atrelado a estação chuvosa sugere que o ambiente mais úmido e produtivo eleva o nível de atividade da espécie explorando os recursos no ambiente. Ressalta-se ainda que os táxons pertencentes ao grupo Xenarthra também são conhecidos por sua baixa agilidade devido ao baixo metabolismo. Portanto, esta característica do grupo também influenciaria na susceptibilidade da espécie a colisões com veículos na rodovia.
Palavras-chave
sazonalidade, análise-espacial, Cingulata, estrada.
Área
Ecologia
Autores
Vitor Oliveira Costa, Helio Secco, Daniel Almada, Marcello Guerreiro, Pablo Rodrigues Gonçalves