X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

UM CARDAPIO BEM EXOTICO: PLANTAS NAO-NATIVAS COMO RECURSO RESERVA PARA O CRITICAMENTE AMEAÇADO MACACO-PREGO-GALEGO (SAPAJUS FLAVIUS)

Resumo

<p>As estratégias de forrageio dos animais consideram uma menor relação entre custo e benefício para obtenção eficiente de energia. Essa pode ser obtida, por exemplo, por meio de recursos preferidos e recursos reserva. Os preferidos são aqueles que são mais consumidos quando diversos itens alimentares podem ser obtidos numa mesma proporção. Esses alimentos usualmente são uma fonte de fácil consumo e permitem rápido ganho calórico para os animais. Os recursos reserva tendem a ter baixa qualidade nutricional relativa e alta abundância. <em>Sapajus flavius</em> é uma espécie que habita os fragmentos de Mata Atlântica do Nordeste brasileiro e algumas áreas de Caatinga e está “Criticamente Ameaçado” de extinção segundo a IUCN. Neste estudo, investigamos a estratégia alimentar do macaco-prego-galego, uma espécie relativamente eficiente na utilização dos recursos naturais em virtude da sua destreza manual que permite, inclusive, o uso de ferramentas para resolver problemas no forrageio. Diante disso, nós objetivamos investigar a representatividade das plantas exóticas na composição da dieta da espécie, demonstrando o potencial das mesmas como <em>fallback food</em>. Durante doze meses (<em>i.e.</em>, de setembro de 2017 até agosto de 2018), nós monitoramos uma população de macaco-prego-galego, em expedições mensais de 10 dias. Utilizamos o método de varredura instantânea, com intervalo de cinco minutos entre varreduras. Tivemos um esforço de campo de 1.056 horas e estivemos, aproximadamente, 459 horas em contato visual com os animais. Realizamos 2.752 varreduras, 17.645 registros comportamentais e uma média de 6,41 indivíduos por varredura. Registramos 45 espécies vegetais pertencentes a 26 famílias sendo consumidas pelo grupo monitorado de macaco-prego-galego. Destes, 53,03% da frequência relativa dos itens consumidos correspondem a plantas exóticas, 44,16% da dieta corresponde a plantas nativas, 1,88% aos animais, 0,05% cogumelo e 1,46% não foram identificados. Entretanto, 80,36% da frequência relativa dos itens consumidos representa apenas cinco espécies: três espécies exóticas (<em>Elaeis guineensis</em> (Dendê) (25,29%), <em>Saccharum</em> sp. (Cana-de-açúcar) (14%) e <em>Syzygium cumini</em> (Oliveira) (12,57%)) e duas são nativas (<em>Anacardium occidentale</em> (Cajú) (15,50%) e <em>Tapirira guianensis</em> (Cupiúba) (13%)). O consumo de plantas exóticas ocorreu durante todo o ano, mas foi intensificado durante diminuição na disponibilidade de recursos vegetais nativos. Tal relação sugere que o macaco-prego-galego utiliza plantas exóticas como <em>fallback food</em>. A família Cebidae é um dos melhores modelos existentes para estudos do papel dos <em>fallback foods</em>. Agora chamamos a atenção para do consumo de plantas exóticas como modelo em tais estudos. Plantas exóticas usualmente produzem frutos ao longo de todo ano, sendo bons candidatos para o entendimento desta relação de fallback food nas estratégias de forrageio dos animais. As plantas exóticas foram amplamente usadas pelo macaco-prego-galego, mostrando a potencial importância destas para a manutenção das populações. Recomendamos que não ocorra a retirada total de plantas exóticas pertencentes à dieta do Criticamente Ameaçado macaco-prego-galego das áreas de ocorrência confirmada da espécie. Além disso, estudos que desenvolvam estratégias de manejo adequado nesses fragmentos para que as plantas exóticas não afetem negativamente a flora local.</p>

Palavras-chave

<p><em>Fallback food</em>, Ecologia alimentar, Primata, Dieta</p>

Financiamento

<p>Agradecemos a FACEPE (IBPG-1236-2.05/16), Rufford Small Grant Foundation (23362-B), CAPES (através do PROEX-PPGBA-UFPE) e a Cristal Mineração do Brasil.</p>

<p>&nbsp;</p>

Área

Ecologia

Autores

Robério Freire Filho, Bruna Andrade, Bruna Bezerra