X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

INFLUÊNCIA DOS ATRIBUTOS FUNCIONAIS NOS PADRÕES DE INTERAÇÃO PARASITARIA EM REDES DE PEQUENOS MAMÍFEROS SILVESTRES E SEUS HELMINTOS

Resumo

As interações entre parasitos e hospedeiros estão relacionadas a filtros ecológicos e evolutivos representados pelas características morfológicas, fisiológicas e comportamentais das espécies, suas abundâncias, assim como processos coevolutivos. Um dos atuais desafios é entender a importância dos processos ecológicos e evolutivos sobre os padrões de interação em redes parasito-hospedeiro. Métricas de análises de rede de interações, como grau, centralidade por intermédio e susceptibilidade informam o número de ligações, importância relativa de cada espécie e o papel desempenhado pelas espécies nas redes. O objetivo deste trabalho foi investigar quais fatores (atributos funcionais e distância taxonômica entre as espécies) foram importantes para prever o papel das espécies nas redes de interação parasito-hospedeiro entre pequenos mamíferos silvestres e seus helmintos em uma área de Mata Atlântica preservada. Os mamíferos foram capturados no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO), Teresópolis, RJ, e seus helmintos foram recuperados e identificados. A influência dos atributos funcionais de parasitos (ciclo biológico, tamanho e largura corporal, sítio de infecção e abundância) e hospedeiros (massa e tamanho corporal, dieta, hábito locomotor, horário de atividade e abundância) no grau, centralidade e susceptibilidade dessas espécies na rede foi investigada usando análises de Regressão Múltipla. Foi investigada de que forma a relação entre as distâncias funcionais e taxonômicas de parasitos e hospedeiros influenciaram os padrões de interação usando correlação de Mantel. Foram registradas 20 espécies de pequenos mamíferos, sendo 13 roedores e 7 marsupiais, e 29 espécies de helmintos. O marsupial Didelphis aurita e o roedor Akodon montensis interagiram com um maior número de espécies de parasitos (grau 12 e 6, respectivamente). O grau máximo observado para os helmintos foi de duas interações. O grau (r²=0,56; gl=17; p<0,001), a centralidade (r²=0,44; gl=17; p=0,002) e a susceptibilidade (r²=0,53; gl=9; p=0,012) dos hospedeiros foram positivamente relacionados com sua massa corporal, tamanho de corpo e hábito locomotor. Deste modo, mamíferos com maior porte e maior locomoção entre diferentes estratos, como D. aurita, apresentaram maior susceptibilidade à infecção, e foram importantes para o compartilhamento de helmintos entre diferentes hospedeiros. Para os parasitos, somente a centralidade foi influenciada pelo tamanho do corpo do parasito e sítio de infecção (r²=0,64; gl=15; p=0,001). Espécies de parasitos com menor tamanho de corpo e que não ocorreram em determinados sítios, como o intestino delgado, intestino grosso, ducto biliar e pulmões apresentaram maior interação com diferentes espécies de hospedeiros.   Foi observada correlação positiva entre os padrões de interação dos hospedeiros em relação aos seus atributos (r=0,15; p=0,026) e suas distâncias taxonômicas (r=0,16; p=0,002). O mesmo não foi observado para os parasitos (atributos funcionais, r=-0,10; p=0,926; distâncias taxonômicas, r=0,07; p=0,278). Isto sugere que uma maior similaridade funcional e taxonômica entre hospedeiros tenha favorecido a ocorrência de uma fauna parasitária mais similar. Para os helmintos, foi observada uma maior amplitude de variação nos atributos funcionais, dificultando a identificação de padrões. Este estudo sugere que os atributos funcionais tenham sido importantes preditores dos padrões de interação observados para os hospedeiros, contribuindo para a compreensão dos mecanismos de transmissão de parasitos em mamíferos.

Palavras-chave

ecologia, marsupiais, Mata Atlântica, parasitismo, rede de interações, roedores 

Financiamento

CNPq, Inova Fiocruz

Área

Parasitologia/Epidemiologia

Autores

Thiago Santos Cardoso, Arnaldo Maldonado Jr., Rosana Gentile, Cecilia Siliansky Andreazzi