X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

OCORRENCIA E COMPORTAMENTO ACUSTICO DE UM RARO GOLFINHO OCEANICO, A ORCA-PIGMEIA (FERESA ATTENUATA) NA BACIA DE SANTOS

Resumo

<p>O grupo dos golfinhos (Família Delphinidae, Ordem Cetartiodactyla) é o mais diversificado dos cetáceos. Um dos golfinhos menos conhecido globalmente é a orca-pigmeia (<em>Feresa attenuata</em>), sendo um dos menores (ca. 2-3 m) representantes da subfamília Globicephalinae. A dificuldade em observar a espécie deve-se ao hábitat oceânico e semelhanças com outras espécies, em especial o golfinho-cabeça-de-melão (<em>Peponocephala electra</em>). No Brasil, os registros se resumem a poucos encalhes e avistagens. Neste trabalho apresentamos registros da orca-pigmeia do Projeto de Monitoramento de Cetáceos na Bacia de Santos (PMC-BS) durante campanhas embarcadas para amostragem visual e acústica de cetáceos realizadas entre 2015 e 2019. O PMC-BS foi financiado pela PETROBRAS e definido no Licenciamento Ambiental Federal do Pólo Pré-Sal da Bacia de Santos conduzido pelo IBAMA. Os cruzeiros foram realizados através de transecções das áreas costeiras a pelágicas entre Florianópolis/SC e Arraial do Cabo/RJ, utilizando uma rebocador de 23 m com um arranjo de hidrofones rebocado. Observadores experimentes e operadores de monitoramento acústico passivo (MAP) registravam todas as detecções de cetáceos (visual/acústica). Os resultados aqui apresentados referem-se aos registros detectados e identificados visualmente com base em caracteres morfológicos diagnósticos e registros fotográficos. Foram realizados oito cruzeiros sistemáticos em quatro anos de projeto, com um total de 304 dias, 3.243 h e 42.136 km percorridas de esforço amostral. Com um total de cinco registros visuais, a orca-pigmeia ficou entre as espécies de odontocetos menos registradas. Os grupos variaram entre 5-30 indivíduos (média= 12; DP= 10,3). A profundidade média dos encontros foi de 893 m (200 m - 2.350 m), predominantemente na região do talude continental. Em dois encontros foram feitos registros acústicos, sendo que nos outros três os grupos permaneceram em total ou quase silêncio. Em um dos encontros com sons detectados foram gravados muitos assovios (n = 82). Na média apresentaram duração longa (média= 1,2 s; DP= 0,42) e frequência mínima e inicial alta (média= 10,7 e 12,9kHz; DP= 3,0 e 4,7; respectivamente), semelhante a valores descritos para outros delfinídeos de pequeno porte. A variação de frequência (média= 5,8kHz; DP= 3,0) e o número de pontos de inflexão (média= 0,55; DP= 0,88) foram baixos, se assemelhando aos assovios descritos para outros globicefalíneos. Uma sequência forte de cliques de ecolocalização foi detectada em outro encontro (n = 837). Os cliques foram curtos (média= 36µs; DP= 10,1). A frequência pico (média= 60kHz; DP= 7,8) e centróide (média= 65kHz; DP= 5,6) foram maiores do que as descrições para globicefalíneos de maior porte. No geral o comportamento acústico da espécie não foi muito ativo, o que pode estar relacionado à ecologia comportamental da espécie, possivelmente devido a uma maior atividade noturna ou uma forma de evitar predadores. Uma vez que a espécie possa ser detectada e classificada através de seus sons, o MAP pode colaborar nos estudos sobre a biologia da orca-pigmeia, assim como de outros cetáceos elusivos nas águas do Brasil. Os dados corroboram que a orca-pigmeia é uma espécie naturalmente rara, mas amplamente distribuída no talude continental do sudeste do Brasil.</p>

Palavras-chave

<p>Cetáceos, Odontocetos, Distribuição, Espécies raras, Bioacústica</p>

Financiamento

<p>Petrobras</p>

Área

Ecologia

Autores

Alexandre Douglas Paro, Leonardo Leão Versiani, Leonardo Liberali Wedekin, Marcos Roberto Rossi-Santos