Dados do Trabalho
TÍTULO
Ocorrência de patologias e lesões crânio-dentárias em Didelphis albiventris (Didelphimorphia: Didelphidae)
Resumo
Patologias são alterações estruturais somáticas na arquitetura de uma estrutura orgânica, geralmente atribuídas a doenças e lesões. Embora comuns para mamíferos de interesse comercial e veterinário, estudos de patologias crânio-dentárias em espécies silvestres são escassos. Didelphis albiventris, um marsupial típico do Cerrado e Caatinga, ocorre no nordeste e centro-sul do Brasil, Paraguai e centro da Bolívia, Uruguai e Argentina, sendo considerada uma espécie sinantrópica, tolerando habitats perturbados e fragmentados, os quais explora em busca de recursos. A despeito de sua ubiquidade e proximidade a ambientes antropizados, e consequente propensão a acidentes e outras situações que potencialmente podem causar traumas crânio-dentários, são escassos os relatos dessas ocorrências para a espécie. Nosso objetivo é identificar e descrever patologias crânio-dentárias em indivíduos de D. albiventris, discutindo possíveis causas e efeitos. Analisamos 85 crânios de espécimes adultos de D. albiventris depositados na coleção de mamíferos do Centro de Coleções Taxonômicas da UFMG. Categorizamos as patologias em oito grupos: (a) reabsorção óssea; (b) dentes translúcidos; (c) cáries; (d) fraturas dentárias; (e) perda física de dentes; (f) fraturas ósseas e, (g) deformações ósseas. Foram encontradas evidências patológicas em 23 indivíduos, com mais de um caso registrado por indivíduo, totalizando 78 ocorrências. Dois indivíduos (8,7%) somaram 33 (42,3%) casos de dentes translúcidos, podendo ser um indício de alterações na produção e metabolismo de colágeno. Fraturas (n=11; 14,1%) e perdas dentárias (n=9; 11,5%) foram observadas em sete (30,4%) e cinco (21,7%) espécimes, respectivamente. Dos cinco exemplares com fratura óssea, três apresentavam também fratura e/ou perda dentária. Um destes espécimes apresentou fratura na mandíbula, com evidência de regeneração na forma de nódulo e espessamento ósseo, resultando no deslocamento da mandíbula com consequente alteração na oclusão dentária. Estas ocorrências são mais comuns em indivíduos de maior idade, podendo ser causadas pelo desgaste natural dos dentes, ou estar associadas a lesões na mandíbula e crânio, sugerindo uma possível relação com traumas sofridos pelos animais em vida, decorrentes de características comportamentais da espécie como interações agonísticas, acidentes durante a alimentação ou interações com humanos. Evidências de abcessos foram detectadas em dez espécimes (43,5%), que teriam sido a causa da reabsorção óssea observada. Em um exemplar esses abcessos, além de afetar a arcada dentária, resultaram no desgaste anormal dos dentes e consequentemente em alterações na mastigação que podem ter causado atrofia do processo coronóide direito. Constatamos a presença de lesões similares a cáries ou alterações no esmalte em oito (34,8%) espécimes, totalizando 11 registros (14%). Um exemplar (4,3%) possuía desgaste anômalo, no qual os caninos superiores apresentavam exposição da dentina, possivelmente resultado do atrito com os caninos inferiores. Apesar de não ser possível associar diretamente as patologias descritas a efeitos na saúde dos animais, a observação destas lesões permite inferir um impacto em seu desempenho e sobrevivência. As consequências físicas resultantes de fraturas ósseas, perdas e fraturas dentária, podem impactar negativamente a capacidade do indivíduo de forragear e se alimentar, causando a deterioração de sua saúde. Investigar essas patologias pode auxiliar na compreensão de aspectos ecológicos e morfológicos de marsupiais didelfídeos.
Palavras-chave
dentição, lesão, trauma, marsupiais.
Financiamento
Não se aplica
Área
Anatomia e Morfologia
Autores
Rayane Caroline Rezende Lima, Fernando Araújo Perini, Maria Clara Nascimento Costa