X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

ECOLOGIA E SOBREPOSIÇÃO DE NICHO DE DUAS ESPECIES DE TATUS EM UMA PAISAGEM DO CERRADO PAULISTA

Resumo

<p>Espécies próximas filogeneticamente e semelhantes em hábitos de vida e tamanho corporal são mais propensas à competição. A segregação em um dos eixos do nicho é um dos mecanismos responsáveis pela coexistência entre espécies com alta sobreposição na utilização dos recursos. O objetivo deste trabalho foi analisar a sobreposição temporal e espacial entre dois representantes da Ordem Cingulata,&nbsp;<em>Cabassous tatouay</em>&nbsp;e&nbsp;<em>Dasypus novemcinctus</em>, com similaridades no hábito de vida e no tamanho corporal. Amostramos 60 pontos com armadilhas fotográficas do Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus (Pedregulho/SP, 20°13'45.49"S-47°26'28.92"O) e seu entorno, entre janeiro e agosto de 2017, equidistantes em 1km e cada registro com intervalo superior a 60 minutos foi considerado independente. Os padrões de atividade foram caracterizados a partir dos horários em que os indivíduos foram registrados. Para quantificar a sobreposição temporal, calculamos o coeficiente de sobreposição por meio da função de distribuição&nbsp;<em>kernel</em>&nbsp;no programa R (pacote “<em>overlap</em>”) e utilizamos o teste Watson U² no&nbsp;<em>software</em>&nbsp;Oriana® para testar&nbsp;se as frequências dos registros foram similares ao longo de 24 horas. Para determinar a utilização de cada classe vegetacional pelas espécies, plotamos&nbsp;<em>buffers</em>&nbsp;de 100m de raio ao redor de cada ponto amostral e extraímos a porcentagem de cada tipo vegetacional em mapas de uso do solo no&nbsp;<em>software</em>&nbsp;ArcGIS. A segregação espacial foi determinada pela utilização dos diferentes tipos vegetacionais por meio do índice de sobreposição de Pianka. As duas espécies foram ativas com maior frequência no período noturno e apresentaram diferentes picos de atividades.&nbsp;<em>Cabassous tatouay</em>&nbsp;(n=35) apresentou 88,5% dos registros entre 19h30 e 05h30 e pico de atividade entre 01h00 e 05h00.&nbsp;<em>Dasypus novemcinctus</em>&nbsp;(n=202) apresentou 98,5% dos registros entre 18h e 5h40 com picos de atividade entre as 20h e 22h e entre 00h e 02h. A sobreposição temporal entre as espécies (∆1= 0,61) foi menor do que 70% e as frequências nos horários de atividade foram distintas (U²= 0,549 e p&lt;0,001). As duas espécies foram detectadas em dez pontos em comum (16,6%) e a sobreposição no uso dos mesmos tipos vegetacionais foi baixa (O = 0,347). &nbsp;<em>Cabassous tatouay</em>&nbsp;foi mais registrado em vegetações nativas (86% dos registros) enquanto&nbsp;<em>D. novemcinctus</em>&nbsp;foi mais generalista e quatro vezes mais frequente em áreas de pastagem (65% dos registros em vegetações nativas e 22% em pastagem) do que&nbsp;<em>C. tatouay</em>. Embora ocorra sobreposição ao longo do período noturno, essas espécies segregaram nos horários de maior atividade. Na área de estudo a sobreposição no uso das classes vegetacionais foi baixa e nossos dados sugerem que&nbsp;<em>C. tatouay</em>&nbsp;pode ser uma espécie restrita a ambientes com vegetações nativas, enquanto&nbsp;<em>D. novemcinctus</em>&nbsp;é generalista e consegue explorar diferentes ambientes da paisagem. A segregação espacial parece ser mais importante do que a segregação temporal para essas espécies, que também ajustam seu horário de atividade em função de características ambientais, como temperatura. Portanto, a segregação espacial pode ser uma estratégia importante para favorecer a coexistência entre essas espécies na área de estudo.</p>

Palavras-chave

<p><em>Cabassous tatouay</em>,<em> </em>Coexistência,<em>&nbsp;Dasypus novemcinctus</em>,&nbsp;Partição de recursos</p>

Financiamento

<p>Fundação de Amparo à&nbsp;Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)</p>

<p>Bolsa de Iniciação Ciêntífica, nº do processo&nbsp;2018/15793-0</p>

Área

Ecologia

Autores

Mateus Yan Oliveira, Jéssica Abonizio Gouvea, Larissa Fornitano, Rita Cassia Bianchi