X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

OS VERDADEIROS VAMPIROS: A ALTA ABUNDANCIA DE MOSCAS HEMATOFAGAS ECTOPARASITAS DE MORCEGOS INTERFEREM NA SAUDE DO HOSPEDEIRO

Resumo

Embora a fauna de ectoparasitos associada a morcegos seja relativamente bem conhecida, o mesmo não se pode dizer dos efeitos desses invertebrados sobre seus hospedeiros. Entre os ectoparasitos de morcegos, as moscas hematófagas das famílias Nycteribiidae e Streblidae são as mais frequentes e abundantes, representando um modelo interessante para estudar os efeitos do parasitismo sobre a saúde do hospedeiro. Para morcegos, a massa corporal é uma medida eficaz para estimar as reservas de gordura e, portanto, pode ser utilizada para inferir sobre sua saúde. A fim de verificar se há influência da carga parasitária de moscas ectoparasitas de morcegos sobre a saúde de seus hospedeiros, entre julho/2014 e abril/2017, utilizamos redes de neblina e puçás para capturar morcegos em 16 pontos no estado de Pernambuco em ambientes de Mata Atlântica, Agreste e Caatinga, e em uma caverna inserida neste último bioma. Cada morcego foi pesado, medido, identificado e cuidadosamente inspecionado para detecção de moscas ectoparasitas e, sempre que positivo, estas foram preservadas em etanol 70% e identificadas em laboratório. Realizamos uma regressão linear utilizando a massa corporal (g) de cada indivíduo hospedeiro e o número de moscas (abundância) encontradas sobre ele. Para as análises, consideramos apenas as espécies hospedeiras mais capturadas (n ≥ 50) e indivíduos adultos (excluindo grávidas), totalizando 1.080 morcegos de quatro guildas tróficas (dois frugívoros, dois nectarívoros, um hematófago e um insetívoro) pertencentes a três famílias: 402 Carollia perspicillata, 208 Artibeus planirostris, 60 Glossophaga soricina, 53 Diphylla ecaudata, 42 Lonchophylla mordax (Phyllostomidae), 160 Pteronotus gymnonotus (Mormoopidae) e 155 Myotis lavali (Vespertilionidae). Sobre esses hospedeiros, coletamos 3.995 moscas. A prevalência e abundância de moscas foram mais elevadas para D. ecaudata (93% e 20 moscas, respectivamente) e mais baixas para A. planirostris (45% e 1 mosca, respectivamente). Apenas para a espécie hematófaga D. ecaudata observamos haver influência significativa da carga parasitária: os indivíduos mais parasitados apresentaram menor massa corporal (R2 = 0,099; p = 0,030), representando uma interferência na saúde do indivíduo. Como observado para quase a totalidade das espécies aqui estudadas, parece haver uma forte coadaptação entre parasita e hospedeiro, sem efeito na saúde do morcego. Não por acaso, moscas ectoparasitas de morcegos possuem uma história evolutiva com seus hospedeiros de, pelo menos, 15 milhões de anos; o que resulta em um balanço entre o impacto causado pelo parasito e a resposta imune do hospedeiro. Entretanto, mesmo havendo um relativo equilíbrio nesta associação mosca-morcego, aparentemente populações de morcegos com alta prevalência e abundância de moscas ectoparasitas podem ter sua saúde negativamente afetada, como observado para D. ecaudata e, desta forma, podendo refletir sobre as taxas de reprodução e sobrevivência da espécie. Apesar de outros fatores poderem estar relacionados com a saúde animal, além da massa corporal, altas taxas de prevalência e, especialmente, de abundância de moscas ectoparasitas sobre morcegos, podem ser um indicativo sobre a qualidade/aptidão de determinada população.

Palavras-chave

Condição corporal, Chiroptera, Nycteribiidae, Relações parasito-hospedeiro, Streblidae.

Financiamento

CAPES, CNPq, FACEPE, Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Área

Parasitologia/Epidemiologia

Autores

Eder Barbier, Enrico Bernard