X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

VARIAÇAO ESPACIAL NA ABUNDANCIA DE CERVOS-DO-PANTANAL: UMA ABORDAGEM COM DRONES E MODELAGEM HIERARQUICA

Resumo

A heterogeneidade espacial na disponibilidade de forragem pode ser um dos fatores determinantes da abundância de ungulados, como os cervídeos. O cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), além de consumir plantas herbáceas e arbustivas, se alimenta de macrófitos aquáticos, ocorrendo em formações vegetais abertas e ambientes úmidos. No Pantanal, os pulsos de inundação produzem gradientes de disponibilidade de forragem, e de corpos d’água, em escalas espaciais relativamente pequenas. Nós avaliamos a influência de biomassa vegetal verde e de corpos d’água na variação espacial da abundância de cervos-do-pantanal no Pantanal Norte. Testamos as hipóteses de que a abundância de cervos-do-pantanal aumenta na proximidade de corpos d’água e com o incremento da biomassa verde. Para isso, utilizamos uma técnica emergente de coleta de dados – amostragem aérea com drones – e uma abordagem estatística que leva em conta a detecção imperfeita – a modelagem hierárquica. Foram definidos seis planos de voo (32-42 km) na RPPN Sesc Pantanal (Barão do Melgaço, MT), evitando áreas florestais. Em setembro de 2017 (período de seca), realizamos 25 sobrevoos utilizando um drone de asa-fixa (Echar 20B, XMobots) repetindo de duas a seis vezes cada um dos seis planos de voo. A resolução do pixel foi de ~2 cm/px e as fotos foram revisadas manualmente em busca de indivíduos de cervo. Para as estimativas de abundância, foram definidos sítios amostrais a partir da subdivisão das linhas de voo em segmentos de 1 km (203 sítios). Para cada sítio, foram estimadas a biomassa verde (cálculo via NDVI) e a distância média à corpos d’água, a partir de imagens do satélite Sentinel-2 (10x10m). Ajustamos modelos hierárquicos para dados de contagem, da família N-mixture, incluindo a biomassa verde e a distância à corpos d’água como preditores da abundância e a temperatura no momento da amostragem como preditor da detecção de cervos. A partir dos 64 registros de cervos-do-pantanal encontrados em um total de aproximadamente 25 mil fotos obtidas, estimamos 105 indivíduos (IC95% = 54-205) distribuídos nos 203 sítios. A abundância de cervos-do-pantanal apresentou uma relação positiva com a biomassa verde e negativa com a distância a corpos d’água. Sítios com mais de 2 km de distância média a corpos d’água e com índice de biomassa menor que 0,4 apresentaram abundância média de cervos praticamente nula. A probabilidade de detecção dos indivíduos apresentou uma relação negativa com a temperatura, variando de cerca de 30% em 23ºC até 10% em 37ºC. Corroboramos as duas hipóteses testadas, de que o cervo-do-pantanal (i) está mais associado a corpos d’água e (ii) de que a disponibilidade de forragem influencia positivamente sua abundância. Uma vez que o período da seca é mais restritivo aos cervos, será interessante avaliar se os efeitos de corpos d’água e biomassa verde são relaxados durante os pulsos de inundação do Pantanal. A abordagem com drones e modelos hierárquicos utilizada se mostrou eficaz para estudos populacionais de cervídeos em áreas abertas.


Palavras-chave

Blastocerus dichotomus, veículo aéreo não-tripulado, detecção imperfeita, amostragem aérea, modelos hierárquicos, Pantanal


Financiamento

Capes, Sesc Pantanal


Área

Ecologia

Autores

Ismael Verrastro Brack, Andreas Kindel, Douglas Oliveira Berto, José Luis Passos Cordeiro, Luiz Flamarion Barbosa Oliveira