X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

CAÇA E COMERCIO DE TATUS EM AREAS PROTEGIDAS DO ESTADO DO PIAUI

Resumo

<p>No Nordeste do Brasil, a caça é uma atividade amplamente difundida, inclusive no entorno de áreas protegidas. A ilegalidade torna difícil a coleta de dados em campo e os estudos que caracterizam a caça são focados principalmente em etnozoologia e poucos estudos são baseados em dados oficiais, fornecidos por entidades governamentais. O objetivo deste estudo foi caracterizar a caça ilegal na região sul do estado do Piauí, no entorno dos Parques Nacionais da Serra da Capivara (PNSCa), da Serra das Confusões (PNSCo) &nbsp;e o corredor ecológico que liga os dois parques. Nós analisamos os autos de infração emitidos pelo ICMBio entre 2009 a 2017 e entrevistamos 09 guardas-parques para investigar a cadeia de comércio local. Foram emitidos 382 autos de infração, sendo 358 para PNSCa. No total foram apreendidos 1.122 animais, sendo 700 (62,4%) de mamíferos, representados por doze espécies. Os mamíferos mais citados foram tatus (família Dasypodidae) com 592 (52,8%), Conepatus semistriatus 48 (4,3%), e Dasyprocta prymnolopha 23 (2%). Quatro espécies de tatus foram citadas: Dasypus novemcinctus 544 (48%) Tolypeutes tricinctus 24 (2,1%) Dasypus septemcinctus 8 (0,7%) e Euphractus sexcinctus 5 (0,4%). Considerando o peso médio dos animais abatidos, estimamos 3.058 kg de carcaças de mamíferos silvestres. Em termos de conservação, duas espécies ameçadas foram registradas: T. Tricinctus (vulnerável - IUCN, 2014) e Panthera onca (quase ameaçada - IUCN 2017). A principal ferramenta usada na caça foram os cães, com 75 animais apreendidos. Também foram aprendidas 52 armas de fogo, sendo 15 de fabricação específica para tatus (espingardinha bate bucha). Outras armadilhas específicas para tatus foram as "tatuzeiras" ou "jequé". Os municípios com maior número de infrações foram São Raimundo Nonato, Brejo do Piauí, Cel. José Dias e João Costa e o período com maior aprensão foram os meses chuvosos (janeiro a abril). A caça de tatus é um padrão encontrado em todo o país. Estudos de etnozooogia apontam como a principal motivação a subsistência e a preferência explicada por fatores culturais e subsistência. Nossos resultados mostraram que o mercado de consumo desses animais se especializou e profissionalizou e envolve perfis variados de consumo, acompanhado de uma cadeia comercial lucrativa. Os preços por uma unidade de D. novemcinctus podem variar de 60 a 150 reais, e de T. Tricinctus de 80 a 300 reais (salário mínimo nacional era de 937 reais em 2017; 35% da população tem renda e 38,6% com até ½ salários). Apesar de ser considerados como abundantes, os tatus são os principais alvos de atropelamentos, queimadas e incêndios florestais, além da perda e fragmentação de habitat, e são animais pouco estudados pela ciência. Somado a falta de dados populacionais e de comportamento, a avaliação do impacto da caça se torna ainda mais importante. Embora os dados fornecidos pela agência ambiental tenham recebido pouca atenção acadêmica, eles têm grande potencial informativo. A caracterização da caça furtiva torna-se ainda mais importante para apoiar medidas de prevenção e para orientar melhor as investigações sobre o comércio ilegal de tatus e reavaliar o status de conservação dessas espécies.</p>

Palavras-chave

<p>caatinga, serra da capivara, serra das confusões, fiscalização, icmbio<br />
&nbsp;</p>

Financiamento

Área

Biologia da Conservação

Autores

Liana Mara Mendes Sena, Jéssica Carvalho Souza, Flávio Henrique Guimarães Rodrigues