X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

MASTOFAUNA ATROPELADA NA BR 163 NO ENTORNO DA FLORESTA NACIONAL DO TAPAJOS, PARA

Resumo

O atropelamento de fauna em rodovias é responsável pela mortalidade de inúmeros mamíferos, podendo causar a desestruturação e perda da variabilidade genética das populações animais, sobretudo em unidades de conservação cortadas por rodovias. Nosso objetivo foi caracterizar as espécies de mamíferos atropelados e identificar hosposts de atropelamento na rodovia BR-163, Pará. Realizamos o monitoramento em 201 km (entre o km 10 e 211) da rodovia, abrangendo os municípios de Santarém, Mojuí dos Campos, Belterra, Placas e Rurópolis, dos quais 161 km fazem limite com a Floresta Nacional (Flona) do Tapajós. Entre junho e dezembro de 2018, utilizando um veículo a uma velocidade média de 50 km/h, realizamos 21 expedições de campo (2.905 km monitorados), sendo que as 14 primeiras expedições foram realizadas somente nos primeiros 107 quilômetros do trecho monitorado e as últimas sete expedições nos 201 quilômetros. Registramos as coordenadas geográficas e identificamos todos os mamíferos encontrados atropelados. Utilizando somente as sete últimas expedições de campo, identificamos os hotspots de atropelamento para as espécies mais comuns utilizando análise de Kernel, que identifica pontos de agregação de atropelamentos na rodovia. Realizamos 75 registros de 14 espécies de mamíferos, pertencentes a sete ordens (Carnivora, Chiroptera, Cingulata, Didelphimorphia, Pilosa, Primatas e Rodentia). Registramos uma taxa de atropelamento total de 0,025 km/dia, e as espécies com maior número de registros foram Didelphis sp. (N=25), Tamandua tetradactyla (N=12), Cerdocyon thous (N=7) e Mico argentatus (N=4). Identificamos hotspot de atropelamento de Didelphis sp entre os quilômetros 10 ao 40 da BR-163, trecho que se insere em uma paisagem de áreas urbanas, agricultura e fragmentos florestais. Para T. tetradactyla, o hotspot de atropelamento ocorreu entre os quilômetros 50 a 75, trecho que faz limite com a Flona do Tapajós. Registramos somente uma espécie ameaçada de extinção, Myrmecophaga tridactyla (N = 1), que se encontra vulnerável a nível estadual, nacional e global, além do M. argentatus que é endêmico do estado do Pará. Esses últimos são os menores símios existentes e os únicos primatas identificados no nosso estudo, o que se deve provavelmente ao uso de hábitats de borda pela espécie. As espécies que registramos são normalmente encontradas atropeladas em diferentes regiões e ambientes do Brasil. As espécies Didelphis sp. e C. thous são generalistas e de hábitos oportunistas, possuem grande capacidade de adaptação a áreas antropizadas, enquanto T. tetradactyla necessitam cobrir grandes áreas para forrageio; características que deixam essas espécies mais vulneráveis ao atropelamento em ambientes cortados por rodovias. A Flona do Tapajós, assim como outras unidades de conservação, são áreas de preservação natural e refúgios para fauna. Com a caracterização dos animais atropelados e seus pontos de agregação, medidas de mitigação (ex. redutores de velocidade, passagem de fauna) mais efetivas podem ser executadas, garantindo a conservação da fauna local.

Palavras-chave

Amazônia; Atropelamento de fauna; Ecologia de estradas; hotspot

Financiamento

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

Área

Ecologia

Autores

Gabriela da Silva Batista, Clarissa Rosa, Nilton Rascon, Maria Jociléia da Silva