X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

HISTORICO DE CAPTURAS E ACIDENTES DA PREGUIÇA-COMUM BRADYPUS VARIEGATUS AO LONGO DE 12 ANOS EM AREA URBANA NO BIOMA FLORESTA ATLANTICA

Resumo

A preguiça-comum Bradypus variegatus é uma espécie florestal diurna com ampla distribuição nas áreas tropicais das Américas Central e do Sul. Ela é folívora e apresenta baixas taxas metabólicas, digestão lenta e limitada termorregulação. Uma das regiões de sua ocorrência é a Floresta Atlântica, que tem sofrido histórico processo de perda de ambientes. Atualmente, resta em torno de 10% da cobertura vegetal original dessa floresta, sendo que parte disso fragmentado em meio urbano. Animais residentes desses fragmentos estão expostos a tensões e a interações diretas e indiretas com humanos e suas habitações, que lhes impõem desafios à sobrevivência. O objetivo do presente estudo foi avaliar a abundância, regularidade e causas de capturas e acidentes da preguiça-comum Bradypus variegatus ao longo de 12 anos em uma região urbana do bioma Floresta Atlântica. Trabalhamos o banco de dados de indivíduos da espécie entregues entre 2007-2019 ao Parque Ecológico de São Vicente (PEV), município de São Vicente, Baixada Santista, São Paulo. Os indivíduos foram levados ao PEV pela população local, policiais ou bombeiros e recebidos por veterinários. Quando recebidos, passaram por um protocolo de avaliação e tomada de dados, consistindo em identificação do local, data e condições da captura, sexagem, pesagem, estado de saúde e causas de eventuais ferimentos, entre outros aspectos. Após, passaram por um processo de reabilitação para posterior soltura (microchipados), desde que reabilitados. O PEV recebeu de 2 a 25 preguiças-comuns por ano nos últimos 12 anos ( x = 9,8, SD = 5,89 indivíduos/ano), todas vivas, totalizando 127 indivíduos (73 machos e 54 fêmeas). Elas foram capturadas entre 0,2-135 km de distância do PEV e de janeiro a dezembro, mas principalmente em março (14 indivíduos) e abril (18 indivíduos). A maior parte dos indivíduos entregues estava na vegetação ou em rodovia (66,9%; N = 85 indivíduos), um estava cativo, cinco (3,9%) foram entregues sem relato sobre a condição da captura e 36 (28,3%) sofreram acidentes. Desses, 15 foram atropelados, 14 eletrocutados em fiação de postes, quatro caíram na água (N = 1 no mar; N = 1 em canal; N = 2 foram achados na beira da praia), dois estavam sujos por óleo diesel e um foi atacado por cão doméstico. Do total de indivíduos, 85 (66,9%) foram reintroduzidos, cinco ficaram sem registro no banco de dados e 37 (29,1%) morreram, dos quais 24 (64,9%) tinham sofrido acidente e 13 (35,1%) não. Há poucos dados comparativos na literatura, mas consideramos alta a quantidade de capturas na região. Também sugere ser alta a média de três acidentes por ano. Como 66,7% dos indivíduos acidentados morreram, acidentes podem representar um expressivo impacto negativo à população local, considerando-se, ainda, que indivíduos mortos por acidentes não são entregues ao PEV. O avanço de áreas urbanas sobre os fragmentos de vegetação nativa pode estar relacionado com esse alto quadro de capturas e acidentes.

Palavras-chave

Bradypus variegatus

Floresta Atlântica

Acidentes urbanos

 

Financiamento

Área

Biologia da Conservação

Autores

Giovanna Sandretti da Silva, Sandra Peres Ferreira, Renata de Britto Mari, Marcos Ricardo Bornschein