Dados do Trabalho
TÍTULO
CARACTERIZAÇAO E DISTRIBUIÇAO ESPACIAL DE ARRANHADOS DE FELINOS EM REMANESCENTE DE MATA ATLANTICA NO SUDESTE DO BRASIL
Resumo
Os felinos neotropicais são predadores solitários e territorialistas. A comunicação intra e interespecífica pode ser apenas química (deposição de urina, fezes e/ou secreções glandulares) ou associada com arranhados. Estes consistem em marcas produzidas pela fricção das patas e garras em elementos do ambiente, como troncos de árvores ou solo. O objetivo do presente estudo foi caracterizar e avaliar a distribuição espacial de arranhados produzidos no solo por felinos na Reserva Natural Vale (RNV; Linhares/ES). A amostragem foi realizada por meio de vistorias ao longo de estradas internas não pavimentadas, trilhas e latrinas, monitoradas entre maio de 2017 e abril de 2019, considerando as subáreas norte, sul e oeste da RNV. Uma vez que o esforço de amostragem (distância percorrida) variou entre subáreas (norte=907 km; sul=595 km; oeste=503 km), para comparação da distribuição espacial das marcações, foi calculada a distância média percorrida necessária para localização de arranhados. A posição das marcas na via (borda, rota e meio) também foi registrada. Esses procedimentos foram aplicados apenas para arranhados detectados nas estradas internas. A caracterização das marcas foi baseada no comprimento (C) e na largura (L) das marcas deixadas no solo, sendo aferidos com auxílio de trena, se aplicando a todos os arranhados. A existência de relação entre essas variáveis foi verificada por meio de Correlação de Pearson. A identidade da espécie foi confirmada a partir de vestígios associados (pegadas e fezes) ou por registros complementares realizados por armadilhamento fotográfico. Foram registrados 46 aranhados, sendo 39 (84,8%) em estradas, quatro (8,7%) em trilhas e três (6,5%) em latrinas. Dos arranhados registrados em estradas, 35 (89,7%; 25,9 km/registro) foram localizados na subárea norte, três (7,7%; 198 km/registro) na subárea sul e um (2,6%; 503 km/registro) na subárea oeste. Quanto à posição na via, 26 (66,6%) foram localizados na borda, 12 (30,8%) no meio e um (2,6%) na rota. O comprimento dos arranhados variou entre 11,4-37,0 cm (média=21,1 cm; DP=5,03) e a largura entre 8,8-29,0 cm (média=17,3 cm; DP=4,09), sendo variáveis não correlacionadas (r=0,096; 45 pares; p=0,528). Dos arranhados cuja espécie foi identificada (n=6), quatro foram atribuídos à onça-parda (C: variação=17,2-23,0 cm; média=20,0 cm; DP=2,88 / L: variação=9,0-29,0 cm; média=18,6 cm; DP=8,2) e dois à jaguatirica (C: variação=11,4-22,0 cm; média=16,7; DP=7,49 / L: variação=8,8-17,0 cm; média=12,9 cm; DP=5,8). A maior frequência de registros na subárea norte pode estar relacionada à maior concentração de corpos d’água nesta subárea e por ela compor zona de contato com outros remanescentes do entorno, resultando em maior possibilidade de interações intra e interespecíficas (área de uso mais intenso por felinos). A maior frequência de arranhados na borda das vias pode estar relacionada com a composição do substrato, sendo que a presença de folhas e galhos pode prolongar a permanência dos sinais químicos depositados junto aos arranhados. Houve grande sobreposição no tamanho dos arranhados de onça-parda e jaguatirica, não sendo possível determinar a espécie produtora quando outros vestígios/evidências estão ausentes. Entretanto, os arranhados representaram elementos importantes para inferências quanto à intensidade de uso das subáreas por felinos de forma geral.
Palavras-chave
Arranhado em solo, Comunicação interespecífica, Comunicação intraespecífica, Felidae, Marcação territorial.
Financiamento
FAPES-VALE (Projeto 510/2016) e UVV (Projeto M01-2017PI002)
Área
Ecologia
Autores
Hilton Entringer Jr, Gustavo Brito-Santos, David Costa-Braga, Laura Martins Magalhães, Suéli Huber, Joyce Gonçalves dos Santos, Ana Carolina Srbek-Araujo