Dados do Trabalho
TÍTULO
EFEITOS DO ANTROPOCENO NA VARIAÇAO ESPACIAL NO NICHO TROFICO DE PUMA CONCOLOR NOS NEOTROPICOS
Resumo
Grandes carnívoros regulam populações de espécies em diversos níveis tróficos por meio de efeitos diretos e indiretos, influenciando a estrutura e dinâmica de ecossistemas. O estudo da dieta desses animais é essencial para o conhecimento de sua biologia e para a tomada de decisões em relação a estratégias de conservação dessas espécies e da resiliência de seus habitats, além de permitir acessar a composição da fauna local. Onças-pardas (Puma concolor) são os carnívoros de grande porte com maior distribuição das Américas e em muitas regiões são os maiores predadores viventes. Com o objetivo de avaliar a variação nos padrões de uso de presas por P. concolor em regiões com diferentes níveis de influência humana, analisamos dados de estudos de dieta realizados em 29 localidades nos neotrópicos, do México à Patagônia. Essas localidades representam desde parques protegidos contendo extensas manchas de habitat, até áreas de habitat fragmentado, imerso em matriz agropecuária. Para caracterizar o uso de recursos, analisamos as distribuições de frequência de ocorrência – porcentagem de amostras contendo um determinado recurso – em cada localidade, examinando a variação no uso de presas de diferentes massas corpóreas. Os registros de presas incluíram mais de 81 espécies de mamíferos, contendo roedores, lagomorfos, xenarthros, ungulados e outros carnívoros. As distribuições de uso de presas variaram bastante entre localidades, com medianas entre 40g e 61kg, enquanto a variação nos limites inferiores e superiores da distribuição foi duas vezes menor. Esses resultados significam que as massas corpóreas das presas variam menos nos extremos da distribuição de massas do que na região central da distribuição, indicando que restrições energéticas ou comportamentais intrínsecas ao predador devem limitar os tamanhos máximo e mínimo de presas. Porém, fatores extrínsecos que influenciam a disponibilidade de presas devem ser responsáveis por determinar as presas consumidas em maior frequência dentro desses limites. A razão entre massa corpórea do predador e tamanho médio das presas foi maior que 5, em média, considerando todas as localidades, valor muito acima do descrito para outros felídeos solitários, como a onça-pintada, cuja razão é próxima a 2. Essa discrepância sugere que, na maioria dos locais analisados, onças-pardas consomem presas muito menores do que esperado pelo seu tamanho. A razão entre massas predador:presas variou desde valores menores que 0.5 (predomínio de presas de grande porte, como artiodáctilos) até maiores que 30 (predominantemente pequenos mamíferos), sugerindo enorme variação espacial na dieta. Essa razão é maior nas regiões mais antropizadas, possivelmente refletindo uma redução no tamanho das presas disponíveis. Onças pardas e onças-pintadas são os maiores hipercarnívoros neotropicais. A versatilidade no nicho trófico é um dos motivos pelo qual P. concolor ainda possui ampla distribuição e populações crescentes em algumas regiões, enquanto Panthera onca está em declínio. Onças-pardas parecem ser resilientes à miniaturização da fauna decorrente da perda e fragmentação de hábitat, porém, a escassez de recursos pode favorecer encontros com humanos e animais domésticos, favorecendo conflitos. O conhecimento detalhado da ecologia alimentar de predadores é crucial para o manejo dos remanescentes de habitat.
Palavras-chave
ecologia alimentar, antropoceno, predação, cascatas tróficas, interações predador-presa
Financiamento
CNPq e Capes
Área
Ecologia
Autores
Lívia Ribeiro Cruz, Mathias Mistretta Pires