X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

E NAO SOBROU NENHUM: REMOÇAO DE PEQUENAS CARCAÇAS POR CARNICEIROS EM PARQUES EOLICOS NO NORDESTE DO BRASIL

Resumo

<p>A remoção de carcaças por carniceiros é um importante viés a ser considerado na estimativa da morte de morcegos e aves por colisão com turbinas eólicas. Porém, padrões de remoção são ainda pouco conhecidos para regiões neotropicais, onde a produção de energia eólica vem aumentando exponencialmente na última década. Este estudo reporta os primeiros dados sobre remoção de carcaças por carniceiros ao redor de aerogeradores na América do Sul, em uma área de floresta tropical sazonalmente seca (Caatinga) no nordeste do Brasil, região que abriga a maior concentração de parques eólicos do continente. Realizamos quatro réplicas de um experimento de campo ao longo de um ano (em janeiro, abril, julho e outubro de 2017). Em cada réplica, 30 carcaças de pequeno porte (morcegos, camundongos e pintinhos com massa &lt;&nbsp;45&nbsp;g) foram disponibilizadas em um complexo eólico composto por 34 aerogeradores. As carcaças foram monitoradas a cada 12 horas até todas serem removidas, o que demorou de nove a 30 dias. Mais de um quarto (27%) das carcaças desapareceu nas primeiras 24 horas e quase três quartos (73%) em até 72 horas. A taxa de remoção não variou entre tipos de carcaça (morcegos vs. camundongos vs. pintinhos) e períodos do ano (estação seca vs. chuvosa). Porém, a remoção de carcaças foi influenciada pelo tipo de cobertura do terreno, sendo inversamente proporcional à altura/densidade de vegetação. O tempo médio de persistência das carcaças foi maior (5,7 dias; dp =&nbsp;7,5) nas estradas de acesso cobertas por brita e vegetação esparsa, e menor (3,0 dias; dp =&nbsp;4,3) em áreas com predominância de arbustos (altura ≥ 50 cm). Em áreas com vegetação herbácea (altura entre 10‒30 cm), a taxa de remoção foi intermediária (média = 3,2 dias; dp =&nbsp;4,3) mas não diferiu significativamente do tempo de persistência das carcaças nos terrenos cobertos por brita e vegetação arbustiva. A fauna de carniceiros da área de estudo foi composta por mamíferos (2 espécies), aves (2 espécies) e insetos (5 espécies de besouros e 19 espécies de formigas). Os carcineiros mais frequentemente observados foram a raposa <em>Cerdocyon thous</em>, espécie registrada em todos os períodos do ano e responsável pela remoção de 14 carcaças (12% do total), e besouros rola-bosta (especialmente <em>Dichotomius geminatus</em>), que removeram 23 carcaças (19% do total) durante o período chuvoso. Nossos resultados demonstram um curto tempo de permanência das carcaças na área amostrada, evidenciando a importância da correção das estimativas de mortalidade de acordo com as taxas de remoção e, principalmente, da necessidade de que observadores busquem estas carcaças em intervalos menores. Estudos de impacto na região Neotropical que ignorem estas premissas terão seus resultados comprometidos.</p>

Palavras-chave

<p>avaliação de impacto ambiental; aves; Caatinga; estimativa de fatalidade; morcegos; Neotrópicos; turbinas eólicas; monitoramento de carcaças</p>

Financiamento

Área

Biologia da Conservação

Autores

Marília A. S. Barros, Luciana Iannuzzi, Isabelle Leite de Holanda Silva, Inara Roberta Leal, Aída Otálora-Ardila, Enrico Bernard