X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

Variação morfológica de Callicebus Thomas, 1903 (Primates, Pitheciidae) no interflúvio Tapajós-Teles Pires e Tocantins-Araguaia e suas implicações taxonômicas

Resumo

<p><em>Callicebus</em>, popularmente conhecidos como sauás, é um dos gêneros mais diverso e amplamente distribuído de primatas neotropicais. Desde a descrição do gênero, os arranjos taxonômicos propostos se basearam principalmente em caracteres morfológicos e de distribuição geográfica. Recentemente, através de estudos moleculares, as espécies de sauás foram divididas em três gêneros: <em>Callicebus</em>, <em>Cheracebus</em> e <em>Plecturocebus</em>. Entretanto, devido a diversos fatores, como a falta de diagnoses claras e a tentativa de classificação com base fundamentalmente no tempo de divergência entre subclados que compõem <em>Callicebus</em> (<em>sensu lato</em>), no presente trabalho reconhecemos estes nomes como subgêneros. Dentre as espécies do subgênero <em>Plecturocebus</em>, apenas duas são encontradas no interflúvio Tapajós-Teles Pires e Tocantins-Araguaia, <em>Callicebus moloch</em> e <em>Callicebus vieirai</em>. No entanto, pouco se conhece sobre as variações geográficas, individuais e ontogenéticas destas espécies, havendo inclusive lacunas com incerteza de distribuição ao longo do interflúvio. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo analisar os padrões de variação morfológica das populações de <em>Callicebus</em> distribuídas no interflúvio Tapajós-Teles Pires e Tocantins-Araguaia e verificar a existência de padrões constantes e diagnosticáveis que tenham implicações taxonômicas. Analisamos 122 espécimes de <em>Callicebus</em>, incluindo peles e crânios, depositados em coleções científicas nacionais e internacionais. Adicionalmente, utilizamos fotografias retiradas em campo e estudos já publicados, e observamos indivíduos em cativeiro no Parque Zoológico de Sorocaba-SP. Na análise quantitativa, aferimos 23 medidas crânio-dentárias em indivíduos adultos que foram submetidas a testes estatísticos de dimorfismo sexual e variação geográfica. Na análise qualitativa, observamos o padrão de coloração da pelagem dos espécimes, delimitando campos cromogenéticos. Os testes estatísticos demonstraram não haver diferença significativa quanto à morfometria crânio-dentária, tanto para os níveis intra e interespecíficos como para o dimorfismo sexual. Da mesma maneira, a análise qualitativa indicou não haver dimorfismo sexual, porém, foram constatadas variações geográficas e populacionais. Os espécimes de <em>C. moloch</em> apresentaram variações quanto a tonalidade da coloração acinzentada do dorso e alaranjada no ventre e barba, especialmente quando comparadas as populações próximas a foz do rio Tapajós e as próximas a margem esquerda dos rios Tocantins-Araguaia. Já a coloração típica de <em>C. vieirai</em>, com barba e fronte esbranquiçadas formando um círculo ao redor da face, foi observada em um espécime do interflúvio Iriri-Xingu e nas populações próximas à margem direita do rio Teles Pires, no norte do Mato Grosso. Quatro indivíduos, incluindo os parátipos de <em>C. vieirai</em>, exibiram características intermediárias entre <em>C. vieirai </em>e <em>C. moloch</em>, indicando possível hibridização. Esta hipótese é fortalecida por recentes estudos moleculares, nos quais um espécime identificado como <em>C. moloch</em> apresentou genoma mitocondrial semelhante a de <em>C. vieirai</em>, formando um grupo monofilético. Além disso, no presente estudo não foram constatadas barreiras geográficas significativas entre as espécies, existindo possivelmente uma zona de contato. Portanto, além da grande variação intraespecífica, estes resultados demonstram a necessidade de mais trabalhos em campo e coleta de informações nesta região, para que tanto as relações interespecíficas quanto a biogeografia destas espécies possam ser melhor compreendidas. Finalmente, propomos que o uso das categorias subgenéricas e subespecíficas sejam reconsideradas no caso de <em>Callicebus</em>.&nbsp;</p>

Palavras-chave

<p>Platyrrhini, sauás, padrão de coloração, Amazônia.</p>

Financiamento

<p>O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.</p>

Área

Sistemática e Taxonomia

Autores

Rafaela Lumi Vendramel, Fabio Oliveira do Nascimento, Jose Eduardo Serrano-Villavicencio