Dados do Trabalho
TÍTULO
REINTRODUÇAO DE BUGIOS (ALOUATTA GUARIBA CLAMITANS) NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA: ATUALIZAÇOES
Resumo
A biologia da reintrodução é um campo novo e em expansão, que se refere à prática de translocação de organismos para diversos fins de conservação. As ações baseadas na reintrodução podem ter diferentes objetivos, dentre eles, a restauração de processos ecológicos perdidos após a perda de espécies. Esta é fundamental considerando o atual estado de perda de biodiversidade na Terra. No caso da extinção local de frugívoros, pode haver redução da dispersão de sementes, comprometendo a regeneração florestal. Reintroduções podem reverter esses impactos, sobretudo de espécies recentemente extirpadas que desempenhavam funções ecológicas importantes, de forma a reestabalecer interações perdidas. No Parque Nacional da Tijuca foram extintas historicamente muitas espécies de frugívoros de médio e grande porte, dentre elas o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans) - espécie folivoro-frugívora que consome frutos com frequência e engole sementes com tamanhos variando entre 1 e 65mm, diferindo de todos os outros mamíferos frugívoros existentes na floresta. Em 2015, iniciou-se como parte do projeto REFAUNA, iniciou-se a reintrodução dessa espécie, desaparecida da área havia mais de cem anos. Desde o início do projeto, seis bugios foram reintroduzidos no Setor Floresta – quatro machos e duas fêmeas. O primeiro grupo (machos M1 e M2, fêmeas F1 e F2) foi translocado para um cercado de aclimatação no Parque, sendo dois nascidos em cativeiro e dois de origem incerta. Todos passaram por períodos de aclimatação em um cercado no PNT antes de serem liberados, e foram equipados com radio-transmissores para monitoramento pós-soltura. Os animais foram acompanhados para o registro da sua dieta através do método de frequência de ocorrência. Cada indivíduo foi observado, sempre que possível, de 08:00 as 18:00 e foram registradas as espécies de plantas consumidas. Inicialmente foram monitorados de 2 a 3 vezes por semana e em seguida mensalmente, totalizando 463h de observação até o final de 2018. A reintrodução vem enfrentando algumas dificuldades. M1 desapareceu, e os restantes tiveram que ser removidos – M2 e M3 por interagirem demais com os visitantes do PNT e M4 por ferimentos causados pelo transmissor; no entanto, este último foi tratado e retornou ao Parque com sucesso. F2 foi encontrada morta em fevereiro de 2017. Em fevereiro de 2016 ocorreu o nascimento do primeiro filhote, da F1, mas após três meses ele desapareceu. Em julho de 2017 a mesma fêmea, pareada com M4, teve seu segundo filhote e o terceiro foi visto pela primeira vez em dezembro de 2018. Ambos continuam vivos até o momento (última visualização em maio de 2019). Os bugios consumiram pelo menos 44 espécies de plantas, resultado comparável com a dieta em populações naturais. Vinte e uma espécies de besouros rola-bosta interagiram com suas fezes e moveram sementes de diferentes tamanhos, potencialmente aumentando a dispersão de algumas sementes grandes e melhorando a regeneração florestal. A reintrodução dos bugios passa agora por um momento crucial, tentando assegurar que a população se estabeleça com sucesso, para que os ganhos na restauração de processos ecológicos possam ser mantidos.
Palavras-chave
reintrodução, Alouatta guariba clamitans, frugivoria, dispersão de sementes
Área
Biologia da Conservação
Autores
Anna Landim, Genes Luisa, Marcelo Rheingantz, Bruno Moraes, Rafaela Pacheco, Louise Daudt, Marcela Andrade, Alexandra S. Pires, Fernando Antonio Santos Fernandez