X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

O que os mamíferos em situações de conflito nos contam sobre o parasitismo?

Resumo

A fauna silvestre está se tornando cada vez mais frequente em ambientes antropizados e esse contato mais próximo pode acabar gerando diversas situações de conflito. Os problemas oriundos dessas situações, que podem ser prejudiciais para ambos os lados, são cada vez mais frequentes com o aumento da utilização por populações humanas de áreas naturais. Os animais nativos, afetados por atropelamentos, choques e agressões e ataques por animais domésticos, são uma rica fonte de informações em vários âmbitos da pesquisa científica como, por exemplo, zoologia, anatomia, ecologia e, como neste caso, parasitologia/helmintologia. O objetivo deste estudo é realizar um inventário da helmintofauna de mamíferos oriundos de conflitos, relacionando os possíveis ciclos de vida dos helmintos com os hábitos alimentares do hospedeiro. Para realização deste trabalho, foram obtidos mamíferos mortos, provenientes de diversas situações de conflito no Estado do Rio Grande do Sul a partir de vistorias em rodovias e de contato com clínicas veterinárias e outras instituições de pesquisa. Os hospedeiros foram necropsiados e os helmintos processados no Laboratório de Helmintologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foram necropsiados 23 gambás-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), 15 bugios-ruivo (Alouatta guariba clamitans), dois cachorros-do-mato (Cerdocyon thous), e um hospedeiro de cada uma das seguintes espécies: zorrilho (Conepatus chinga), porco-espinho-brasileiro (Coendou prehensilis), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) e quati (Nasua nasua). Foram encontrados helmintos pertencentes aos filos Platyhelminthes (Digenea (25,80%) e Eucestoda (1,07%), Acanthocephala (26,88%) e Nematoda (46,23%). As espécies de helmintos estão sendo determinadas de acordo com chaves especializadas. A alta prevalência apresentada pelos nematoides reflete a sua grande pluralidade de ciclos de vida, hospedeiros intermediários e definitivos. Todos os mamíferos analisados que hospedavam digenéticos (25,80%) possuem registro de consumo de moluscos, que são hospedeiros intermediários fundamentais do grupo. A baixa prevalência apresentada pelos cestoides indica que os invertebrados que servem como hospedeiros intermediários foram pouco ou acidentalmente consumidos pelos mamíferos analisados. A presença de acantocéfalos está diretamente relacionada ao consumo de artrópodes, pois estes são seus hospedeiros intermediários. Os bugios, por possuírem uma dieta basicamente folívora-frugívora, não consomem invertebrados de forma ativa, assim apresentaram helmintos que são transmitidos através de consumo acidental de hospedeiros intermediários ou de retroinfecção. A riqueza helmintológica encontrada, portanto, nos informa sobre as relações tróficas dos hospedeiros gerando informações que podem subsidiar outras pesquisas que enfoquem o comportamento alimentar desses mamíferos. Além disso, todos os problemas oriundos das situações de conflito se refletem nos helmintos que representam uma fauna escondida, negligenciada e ignorada por medidas de conservação, apesar do seu importante papel no controle populacional das espécies hospedeiras e no equilíbrio dos ecossistemas.

Palavras-chave

Helmintofauna, mamíferos, atropelamento, biodiversidade

Área

Parasitologia/Epidemiologia

Autores

Natália Pinheiro Sommer, Marcos Dums, Stephanie Lopes de Jesus, Mariana de Oliveira Vargas Schimit, Cláudia Calegaro Marques