Dados do Trabalho
TÍTULO
VARIAÇOES DE NICHO CLIMATICO EM POPULAÇOES DISJUNTAS DE UMA MESMA ESPECIE: UMA ANALISE DO MORCEGO FRUGIVORO STURNIRA TILDAE (MAMMALIA: CHIROPTERA)
Resumo
A Floresta Atlântica e a Amazônia já foram conectadas em diversos períodos úmidos do passado, permitindo o tráfego de animais de um bioma ao outro. Contudo, a conexão mais recente foi provavelmente no Último Glacial Máximo (~21.000 anos) e, desde então, estas espécies passaram a apresentar populações disjuntas, separadas pela diagonal seca que existe atualmente e inclui a Caatinga, o Cerrado e o Chaco. Neste estudo, investigamos se mesmo separadas as populações do morcego filostomídeo Sturnira tildae continuam ocupando combinações climáticas similares. Para tanto, realizamos um levantamento dos registros de ocorrência da espécie através de consultas em três bancos de dados online: GBIF (Global Biodiversity Information Facility), SpeciesLink e Atlantic Bats; além dos registros existentes em publicações científicas. Após um detalhado refinamento de dados, contabilizamos 198 ocorrências em território sul-americano, sendo 152 na Amazônia (76,7%), 44 na Floresta Atlântica (22,2%) e 4 (2,01%) em manchas úmidas da diagonal seca. Os dados foram separados em duas populações geograficamente distintas: Amazônica e Atlântica, e os registros da diagonal seca foram incluídos na população que encontrava-se mais próxima. Como forma de representar as condições climáticas da área de estudo, cinco variáveis bioclimáticas não colineares disponíveis no portal WorldClim (https://www.worldclim.org/) foram utilizadas, a saber: temperatura máxima do mês mais quente, temperatura mínima do mês mais frio, variação anual da temperatura, precipitação total do mês mais úmido e do mês mais seco. A análise dos dados deu-se através de uma abordagem baseada em dados de ocorrência e pontos de fundo, que resume as condições climáticas disponíveis nas duas florestas aos dois primeiros eixos de uma análise de componentes principais, criando um espaço climático bidimensional em grade, onde cada célula representa uma combinação climática única. Em seguida, foram testadas a sobreposição, equivalência e similaridade de nicho neste espaço bidimensional, conforme proposto por Broennimann et al. (2012). A sobreposição de nicho foi baixa (D=0,17), e os testes de similaridade e equivalência não apontaram para nichos significativamente similares ou equivalentes, indicando que essa divergência parece influenciar o padrão biogeográfico da espécie. No geral, a população amazônica demonstrou ocupar áreas mais quentes e com maior precipitação do que a população atlântica, que por sua vez ocupa áreas onde há uma maior variação anual na temperatura. Dentre os processos ecológicos que podem ter levado à divergência de nicho climático, estão incluídos: diferenças regionais nas interações bióticas (competição, disponibilidade de alimentos e tamanho dos fragmentos florestais, por exemplo) e na disponibilidade de climas, bem como o aparente isolamento reprodutivo. Nossos resultados têm impactos diretos na conservação, visto que mudanças lentas ou ausentes no nicho climático são frequentemente assumidas em modelos de distribuição de espécies projetados em outro espaço ou período de tempo. Por fim, ressaltamos a importância de revisões filogenéticas e taxonômicas que confirmem o status monotípico da espécie aqui analisada, dada a possibilidade de as populações representarem unidades evolutivas distintas. BROENNIMANN, O.; FITZPATRICK, M. C.; PEARMAN, P. B. et al. Measuring ecological niche overlap from occurrence and spatial environmental data. Global Ecology and Biogeography, 21: p.481-497. 2012.
Palavras-chave
Floresta Atlântica, Floresta Amazônica, Phyllostomidae.
Área
Ecologia
Autores
Carlos Henrique Russi, Ícaro William Valler, Sérgio Luiz Althoff