Dados do Trabalho
TÍTULO
LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA MASTOFAUNA SILVESTRE ATROPELADA NA RODOVIA BR-116 ENTRE OS MUNICIPIOS DE INHAPIM E CARATINGA, MINAS GERAIS, BRASIL
Resumo
Rodovias causam diversos impactos sobre as populações de animais silvestres, ocasionando desde a perda e fragmentação de habitat à interferência nas rotas de deslocamento e atropelamentos, esta última uma das principais causas de morte direta de vertebrados, muitas vezes superando outros impactos, como a caça. Com o crescimento da malha rodoviária e o consequente aumento dos atropelamentos de animais, estudos têm buscado avaliar os impactos ambientais das rodovias. No entanto, apesar do Brasil possuir uma das mais extensas malhas rodoviárias do mundo, com cerca de 475 milhões de vertebrados atropelados por ano, trabalhos abordando essa temática ainda são escassos. Assim, nosso objetivo é reportar as espécies de mamíferos atropeladas no trecho da rodovia BR-116 (Km 500 ao Km 525), inserido em uma área de Mata Atlântica, entre os municípios de Inhapim e Caratinga, Minas Gerais, Brasil. O monitoramento foi realizado entre janeiro e maio de 2019, uma vez por semana, utilizando uma motocicleta a uma velocidade média de 60 km/h, nos dois sentidos da via, percorrendo 50 km/dia. A taxa de atropelamento foi calculada para todo o período de monitoramento tendo como base o número de indivíduos atropelados, dividido pela extensão do trecho amostrado, dividido pelo número total de dias monitorados (ind./km/dia). As carcaças registradas foram fotografadas e georreferenciadas, e os indivíduos em bom estado de conservação destinados à coleção de mamíferos do CCT-UFMG. Em cinco meses de monitoramento foram realizados 43 dias de amostragem, totalizando 2.150 km percorridos e 65 carcaças de mamíferos registradas, pertencentes a 16 espécies distribuídas em seis ordens. A taxa de atropelamento foi de 0.30 ind./km/dia. Didelphimorphia, representada apenas pela espécie Didelphis aurita, foi a ordem mais impactada, com 55,4% dos registros (n=36), seguida por Chiroptera com 20 exemplares (30,7%) de oito espécies: Artibeus lituratus (n=6), Lasiurus ega (n=4), Carollia perspicillata (3), Molossus molossus (n=3), Molossus rufus (1), Micronycteris megalotis (n=1), Glossophaga soricina (n=1) e Eptesicus brasiliensis (n=1). A ordem Lagomorpha foi representada por duas carcaças de Sylvilagus brasiliensis (3%). Dentro de Carnivora, Galicitis cuja foi a espécie mais afetada (n=3), enquanto Procyon cancivorus e Conepatus semistriatus tiveram um espécime atropelado cada (1,5%). Apenas um indivíduo de uma única espécie foi registrado para as ordens Rodentia (Coendou spinosus), Pilosa (Tamandua tetradactyla) e Cingulata (Dasypus novemcinctus). Os resultados obtidos indicam que as espécies registradas apresentam hábitos preferencialmente noturnos, o que pode dificultar sua percepção pelos motoristas. Deve-se destacar que o trecho amostrado apresenta elevado fluxo de veículos no período crepuscular, quando os animais iniciam o forrageio, já que é comum o deslocamento de moradores entre os municípios de Inhapim e Caratinga para atividades comerciais, laborais e estudantis. Tendo em vista que o monitoramento dos animais atropelados é o primeiro passo para entender quais fatores contribuem para o aumento da taxa de mortalidade nas rodovias, os dados aqui apresentados, embora preliminares, são importantes para dimensionar os impactos ecológicos causados à mastofauna que vive nos ambientes próximos ao trecho monitorado da BR-116 e podem auxiliar na proposta de medidas mitigatórias para reduzir os atropelamentos dos mamíferos.
Palavras-chave
Atropelamento, ecologia de estradas, Mammalia, fragmentação.
Área
Ecologia
Autores
Erickson Elias Assis, Fred Vitor Oliveira, Maria Clara Nascimento-Costa