X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

DIVERSIDADE DE MAMIFEROS TERRESTRES DE MEDIO E GRANDE PORTE EM PAISAGENS AGRICOLAS DO INTERIOR DO ESTADO DE SAO PAULO

Resumo

A perda e fragmentação do hábitat é hoje uma das principais ameaças à biodiversidade, porém pouco se sabe ainda sobre seus efeitos nos mamíferos em escala de paisagem. Essa abordagem é especialmente importante em regiões como o estado de São Paulo, em que a vegetação natural se encontra extremamente reduzida. Nosso objetivo foi caracterizar a diversidade de mamíferos de médio e grande porte em fragmentos florestais e testar se a riqueza de espécies é influenciada pela quantidade de hábitat (porcentagem de cobertura florestal) e pelo grau de fragmentação (densidade de fragmentos florestais) da paisagem em que estão inseridos. Instalamos uma armadilha fotográfica por fragmento florestal amostrado (n=16) no nordeste do estado de São Paulo. Amostramos por 120 dias (60 na estação seca e 60 na chuvosa), totalizando 1920 armadilhas/dia. Em cada fragmento, também fizemos o levantamento das espécies de primatas por meio de busca ativa, repetindo as visitas até que nenhuma nova espécie fosse registrada nas áreas. Para a análise espacial, calculamos a porcentagem de cobertura florestal e a densidade de fragmentos dentro de um buffer com 2 km de raio ao redor do ponto central do fragmento. Testamos o efeito dessas variáveis na riqueza de mamíferos utilizando modelos lineares generalizados. Obtivemos um total de 476 registros fotográficos de mamíferos e registramos 23 espécies, valor próximo à riqueza estimada pelo índice Jackknife de primeira ordem (27,3 ± DP 2,3), sendo 18 espécies terrestres e 5 de primatas. Porém, a riqueza máxima registrada por fragmento foi de apenas 12 espécies (variando de 3 a 12, mediana = 6). Apesar de possíveis vieses de detectabilidade, esse dado indica que os remanescentes individualmente não abrigam a totalidade das espécies registradas na região. Tal resultado destaca a importância de cada fragmento no contexto regional para manutenção da diversidade de mamíferos. As espécies registradas em mais fragmentos foram os gambás (Didelphis sp.; 94% dos fragmentos), seguidos dos tatus (Dasypus sp.; 83%) e os sauás (Callicebus nigrifrons; 83%). A variação da riqueza de espécies não foi influenciada pela porcentagem de cobertura florestal ou pela densidade de fragmentos, já que o modelo nulo permaneceu como o mais parcimonioso (AICc wi=0,60; ∆AICc<2). A falta de evidência de que há relação entre tais parâmetros da paisagem com a riqueza de mamíferos sugere que no cenário atual da região estudada, a variação do grau de perda e fragmentação de hábitat em larga escala parece não afetar a diversidade de espécies nos fragmentos. Porém, a intensa modificação das paisagens estudadas que resultou em baixa cobertura florestal (máxima de 43%), dividida geralmente em pequenos fragmentos imersos em matriz agrícola, podem resultar em um grau de isolamento dos remanescentes que explicaria a falta de relação entre os remanescentes e os processos que ocorrem em seu entorno em escalas mais amplas. Esse possível isolamento sugere que a troca de espécies entre os remanescentes pode estar comprometida, ameaçando a diversidade de espécies de mamíferos em longo prazo. Assim, medidas de restauração que aumentem a conectividade entre os remanescentes é essencial para a manutenção dessas comunidades.

Palavras-chave

armadilha fotográfica; fragmentação da paisagem; perda de hábitat; riqueza de espécies.

Financiamento

FAPESP, IDEA WILD

Área

Ecologia

Autores

Carla Cristina Gestich, Mariana Baldy Nagy-Reis, Cesar Augusto Estevo, Bruno Henrique Saranholi