Dados do Trabalho
TÍTULO
INSTABILIDADE NO DESENVOLVIMENTO E RESPOSTA IMUNOLOGICA EM CAROLLIA PERSPICILLATA.
Resumo
Estudos ecológicos sobre variação imunológica buscam responder questões evolutivas, relacionadas à seleção de soluções de compromisso de valor adaptativo. A defesa imunológica de um organismo contra parasitas pode apresentar custos sobre o valor adaptativo, com consequências para seleção sexual e estratégias reprodutivas, devido à seleção de genótipos que otimizam a alocação de recursos a diferentes componentes do valor adaptativo (reprodução, sobrevivência, crescimento) de acordo com o ambiente. Genótipos incapazes de tamponar distúrbios durante a ontogenia apresentam instabilidade no desenvolvimento (ID), produzindo variação intraindividual que pode ser medida em organismos bilaterais como diferenças entre lados do corpo (assimetria). Estudos anteriores em Carollia perspicillata mostraram que animais assimétricos apresentam menor probabilidade de sobrevivência e potencial reprodutivo, mas os mecanismos que correlacionam ID e valor adaptativo ainda são pouco conhecidos. O objetivo deste estudo foi testar a hipótese de associação entre resposta imunológica e instabilidade no desenvolvimento em Carollia perspicillata. Experimentos foram realizados com 29 machos e 25 fêmeas em duas ocasiões: início e final do período chuvoso, para medir a resposta a desafios imunológicos. Os animais utilizados são residentes em duas colônias localizadas na Reserva Biológica União (RJ). Foram medidos os comprimentos dos antebraços, massa corporal, comprimento dos testículos, espessura da pata e calculadas assimetria do antebraço e condição corporal (scaled mass index - SMI). Após a triagem, os morcegos foram submetidos a injeções de 0,05ml de fitohemaglutinina em solução salina (PHA – 3mg/ml) na almofada da pata, aleatoriamente selecionada, e no lado oposto 0,05ml de solução salina (PBS). A reação à PHA corresponde a um tipo de imunidade adaptativa mediada por células T que está associada ao estado de saúde geral e à imunocompetência do organismo. Por ser induzida uma reação local, as alterações fisiológicas não causam problemas posteriores. Os animais foram mantidos em uma tenda com 4x4x2,5m e alimentados ad libitum. A resposta imunológica foi medida após 24 horas pelo índice PHA baseado no diferencial de inchaço entre as patas padronizado pela espessura da pata PBS. Nos modelos lineares predizendo a resposta imunológica não foram observadas diferenças entre sexos, nem associação com a condição corporal. A assimetria do antebraço foi um preditor relevante e negativamente correlacionado com a resposta imunológica, mas apenas para machos. As diferenças de assimetria explicaram 27% da variação de resposta imunológica em machos, sugerindo uma possível explicação para a conhecida associação entre ID e sobrevivência neste grupo. Várias fêmeas simétricas apresentaram baixa resposta imunológica, o que pode estar associado ao custo da reprodução e diminuição do investimento em defesa, já que o experimento com as fêmeas aconteceu ao final do período reprodutivo. Existe a possibilidade de variação sazonal na resposta imunológica, o que precisa ser futuramente investigado. Dentre os machos com testículos maiores que 6,5mm (reprodutivamente ativos), há um padrão de associação negativa entre o comprimento do testículo e resposta imunológica, independente e parcial em relação à assimetria, sugerindo uma solução de compromisso entre investimento em imunidade e reprodução que será investigada em novos estudos para esclarecer a magnitude do efeito
Palavras-chave
Chiroptera, Phyllostomidae, Assimetria, Imunologia ecológica
Financiamento
CNPq, CAPES, FAPERJ, FAPESP FAPESP Processo 2014/16320-7
Área
Evolução
Autores
Breno Mellado, Marcelo Rodrigues Nogueira, L Gerardo Herrera, Ariovaldo Pereira Cruz-Neto, Leandro Rabello Monteiro