X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

O DESMATAMENTO DA MATA ATLÂNTICA E O EFEITO NA RIQUEZA DE MAMÍFEROS MÉDIOS E GRANDES

Resumo

<p>A perda e destruição do habitat estão entre as principais causas do declínio da biodiversidade no mundo, com o desmatamento nos trópicos atingindo taxas alarmantes de perda de espécies. Compreender o efeito da perda florestal sobre diferentes grupos biológicos é de extrema importância para ações de conservação, com os mamíferos compreendendo um grupo essencial para o funcionamento dos ecossistemas. Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da perda de floresta em escala de paisagem sobre a riqueza de mamíferos de médio a grande porte. Para isso, nós selecionamos 16 remanescentes florestais de Mata Atlântica localizados na região sul da Bahia, Brasil. Os fragmentos estão inseridos em um gradiente de cobertura florestal em escala da paisagem, variando de 9 a 100 %. Durante 30 dias consecutivos entre janeiro e maio de 2019, 1 a 5 armadilhas fotográficas foram instaladas em cada área amostral, de acordo com o tamanho da área (esforço amostral total de 1.290 armadilhas/noite). A porcentagem de cobertura florestal foi calculada utilizando um raio de 2 km, traçado a partir do ponto central de amostragem em cada área. Foram utilizados Modelos Lineares Generalizados (MLG), com distribuição binomial negativa, para avaliar o efeito da cobertura florestal sobre a riqueza de mamíferos de médio e grande porte (riqueza geral, riqueza de especialistas e riqueza de generalistas). Foram registradas 19 espécies de mamíferos: 8 especialistas e 11 generalistas, que foram incluídas nas análises. Além disso, foram registradas espécies exóticas como cachorro doméstico (<em>Canis lupus familiaris</em>), cavalo (<em>Equus ferus caballus</em>) e espécie de pequeno porte como esquilo (<em>Sciurus sp.</em>). A riqueza geral variou entre 3 e 10 espécies por área ( &nbsp;= 6.0, SD = 2.4), sendo o tatu-galinha (<em>Dasypus novemcinctus</em>), paca (<em>Cuniculus paca</em>) e quati (<em>Nasua nasua</em>) as espécies mais registradas. Três espécies tiveram registro em apenas uma área ─ a onça parda (<em>Puma concolor</em>), anta (<em>Tapirus terrestris</em>) e queixada (<em>Tayassu pecari</em>), sendo duas áreas com alta porcentagem de cobertura florestal. Modelos lineares generalizados mostraram que a riqueza de mamíferos, riqueza total (β = 0.002 ± 0.003 SE), riqueza de generalistas (β = 0.002 ± 0.041 SE) e riqueza de especialistas (β = 0.062 ± 0.057 SE) não foram afetadas pela cobertura florestal na escala de paisagem. Os resultados diferem de outros estudos com pequenos mamíferos e morcegos desenvolvidos na mesma região. Diante disso, é possível que outros fatores como a caça e configuração da paisagem possam estar influenciando a riqueza de mamíferos. No entanto, a conservação das florestas continua sendo importante para biodiversidade, uma vez que as espécies tendem a responder de maneiras distintas às alterações em seu habitat, com algumas apresentando ampla tolerância e até benefício com as perturbações, enquanto outras são altamente sensíveis, como já foi documentado para diferentes espécies de mamíferos de médio e grande porte na Mata Atlântica. O desaparecimento dos mamíferos pode comprometer o funcionamento e dinâmica das florestas, uma vez que desempenham papéis fundamentais para regeneração e estruturação das comunidades.</p>

Palavras-chave

<p>armadilha fotográfica, cobertura florestal, paisagem, generalistas</p>

Financiamento

<p>The Rufford Foundation, Idea Wild, Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC/PROPP (número 00220.1100.1840) e Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros - CENAP</p>

Área

Ecologia

Autores

Elaine Rios, Maíra Benchimol, Eliana Cazetta