X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

Unindo pesquisa, conservação e ecoturismo em uma propriedade privada: o caso do macaco-barrigudo (Lagothrix cana) no Mato Grosso.

Resumo

<p>Estima-se que ~60% das espécies de primatas encontram-se ameaçadas de extinção devido a pressões antropogênicas como a perda de habitat. No sul da Amazônia brasileira, a criação extensiva de gado é a principal fonte de renda para pequenos e grandes proprietários de terra. As áreas de proteção permanente não são suficientes para manter a biodiversidade local, portanto, formas alternativas de lucrar com a floresta em pé são necessárias para conter o desmatamento regional. O turismo de observação tem sido uma atividade de baixo impacto usada para&nbsp;conservação de primatas desde 1980s, apesar de ainda ser pouco comum no Brasil. Tal prática é uma alternativa rentável para áreas privadas que também, contribui para proteção de populações de espécies ameaçadas e de seus habitats. Primatas&nbsp;frugívoros, como o&nbsp;<em>Lagothrix&nbsp;cana</em>, são bons modelos para testar o uso de uma rota de observação baseada em árvores frutíferas consumidas pelo grupo. A espécie ameaçada é um dos maiores primatas dos&nbsp;Neotrópicos&nbsp;e endêmico da região Amazônica. Esse estudo busca caracterizar a dieta, mapear árvores frutíferas consumidas por um grupo de <em>L. cana</em> e estimar a área de uso desses indivíduos em uma propriedade privada no norte do Mato Grosso. As áreas de vida dos animais, espécies vegetais consumidas e rotas percorridas pelo grupo monitorado serão utilizados pela empresa&nbsp;SouthWild, responsável por promover o ecoturismo na região, para otimizar o encontro com os primatas e minimizar o estresse na população através da habituação do grupo. Tal empreendimento busca ser economicamente sustentável para uma propriedade de 10.000 ha da ONF-Brasil. Esse trabalho foi realizado na Fazenda São Nicolau (FSN), Mato Grosso, entre agosto e dezembro de 2018. Nós monitoramos um grupo de 12 indivíduos&nbsp;de <em>Lagothrix&nbsp;cana</em>&nbsp;por 4 meses por observação focal e coleta de amostras fecais. O grupo utilizou uma área de 41.4 ha e encontra-se habituado à presença humana. Os animais visitaram com frequência as mesmas árvores frutíferas durante o período de frutificação, facilitando o encontro com os turistas. Dezoito espécies de frutos de 9 famílias diferentes foram consumidas pelo grupo. A família Moraceae foi a mais representativa, com 27.8% das espécies. Sementes de 13 espécies foram encontradas intactas nas fezes, indicando potencial para germinação pós dispersão. Em uma amostra fecal encontramos até 6 espécies diferentes e até 172 sementes (163 de&nbsp;<em>Ficus&nbsp;sp</em>.,&nbsp;Moraceae). As sementes ingeridas variaram de 2 mm (<em>Ficus&nbsp;sp.</em>) a 19,50 mm (<em>Hymenaea&nbsp;parvifolia</em>, Fabaceae). Nossos resultados preliminares compreendem o primeiro estudo sobre a dieta e área de vida de um grupo de <em>L. cana</em> na FSN, local alvo para implementação do turismo de observação. Um estudo de longa duração, incluindo todas as estações do ano, é necessário para uma caracterização detalhada das espécies vegetais consumidas pelo grupo. Porém, os resultados obtidos até agora já contribuíram para instalação de uma torre de observação em locais que o <em>L. cana</em> visitou com maior frequência durante a temporada do turismo. Assim, buscamos contribuir para implementação do ecoturismo na região, uma forma de conectar pesquisa, propriedade privada e empreendedorismo sustentável.</p>

Palavras-chave

<p>Primatas, Frugivoria, Ecoturismo, Floresta Amazônica.</p>

Financiamento

<p>FAPESP,&nbsp;The Rufford Foundation, ONF-Brasil, SouthWild.</p>

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Área

Ecologia

Autores

Raíssa Sepulvida Alves, Charles Munn, Carlos Peres, Laurence Culot