Dados do Trabalho
TÍTULO
UMA ABORDAGEM INCOMUM E PROMISSORA NA ANALISE ESPAÇO-TEMPORAL DE ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS SILVESTRES EM RODOVIAS A PARTIR DE GUILDAS ECOLOGICAS
Resumo
O atropelamento de fauna em rodovias de todo o mundo é uma das principais causas de declínio populacional em espécies acometidas por esse tipo de impacto. Avaliar a dinâmica espacial e temporal que os eventos de atropelamento ocorrem é essencial para a gestão rodoviária, visando conciliar preservação ambiental e segurança viária. O objetivo do presente estudo é analisar espaço-temporalmente os registros da mastofauna silvestre não-voadora atropelada na rodovia BR-101/RJ Norte entre outubro/2014 e setembro/2018, através de uma abordagem que considera as diferenças de funções e características ecológicas das espécies. As espécies registradas foram agrupadas em três guildas ecológicas no que se refere à sensibilidade aos distúrbios antrópicos no ambiente e à capacidade de movimento: “sensíveis de baixa mobilidade” (SBM), “generalistas de baixa mobilidade” (GBM), e “generalistas de alta mobilidade” (GAM). Os registros foram segmentados mensalmente, e por estações climáticas como número de indivíduos atropelados/km/dia de monitoramento, o que possibilitou análises de variância a fim de detectar possíveis “hot moments”. Para comparação do padrão espacial entre as guildas ecológicas, mapeou-se os pontos de maior incidência de registros na rodovia (“hotspots”), através do teste 2D HotSpot Identification. O grau de dependência de áreas florestais também foi avaliado por meio da comparação das distâncias lineares entre os pontos de atropelamentos de cada guilda ecológica e os fragmentos florestais com área mínima de 10 hectares mais próximos da rodovia (teste de Kruskal-Wallis). Os resultados demonstram que as taxas de atropelamento variaram de forma distinta para cada guilda ao longo dos meses, mas nenhuma delas apresentou sazonalidade associada às estações climáticas. Foi confirmada a existência de 11 “hotspots” para as guildas ecológicas ao longo dos 322 km da rodovia, sendo um deles exclusivo (intra-guilda) de SBM (no Km 189), oito exclusivos de GBM (nos Km 142, Km 165, Km 211, Km 228, Km 240, Km 250, Km 264, Km 292), e dois compartilhados (inter-guildas) entre ambas (nos Km 87, Km 115-120), enquanto que GAM não apresentou nenhum. Em relação à distância dos atropelamentos para áreas florestais marginais, a diferença dos valores entre as três guildas não foi significativa, sugerindo que o grau de dependência é o mesmo. O presente estudo traz uma abordagem, até então, pouco utilizada em estudos de ecologia de estradas para analisar a dinâmica de atropelamentos da fauna silvestre, atribuindo maior importância às características ecológicas do que às características taxonômicas, normalmente utilizadas para identificar padrões espaciais e temporais. Os padrões encontrados são representativos de grupos de espécies que compartilham requisitos ecológicos em comum, diminuindo o viés taxonômico quando se agrupam espécies filogeneticamente próximas, mas com atributos e funcionalidades divergentes. Os resultados que essa abordagem pode fornecer são mais seguros no subsídio à gestão rodoviária e à implementação de medidas de mitigação, pois aumentam a efetividade das ações tomadas para preservar funções ecológicas essenciais à integridade das comunidades de mamíferos.
Palavras-chave
Ecologia de Estradas, Ecologia de Transportes, Ecologia Funcional, Colisões-Veículo-Fauna, Hotspots, Hot moments
Área
Ecologia
Autores
Helio Secco, Vitor Oliveira da Costa, Luis Felipe Farina, Marcello Gonçalves Guerreiro, Pablo Rodrigues Gonçalves