X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

DESLOCAMENTO DE FORRAGEIO A PARTIR DO ABRIGO EM CAROLLIA PERSPISCILLATA

Resumo

Os serviços ecossistêmicos realizados pelos morcegos, como dispersão de sementes e controle de populações de insetos, são fundamentais para a manutenção da estabilidade dos ecossistemas. O comportamento social dos morcegos, sua relação com a paisagem e a distribuição dos recursos são fundamentais para o entendimento e manutenção destes serviços. Nas espécies que possuem fidelidade a abrigos, o sexo, categoria etária, o status social e a disponibilidade de alimento são fatores que podem influenciar o deslocamento entre o abrigo e as áreas de forrageio. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de variáveis individuais e temporais sobre padrões de atividade de Carollia perspicillata, medidos através da probabilidade de captura de animais em relação à distância a partir do abrigo. Os indivíduos da colônia estudada utilizam como abrigo um galpão abandonado, localizado na Reserva Biológica União, RJ. Os morcegos adultos foram marcados com colares e os jovens com anilhas de alumínio no antebraço. O deslocamento dos indivíduos foi observado a partir de amostragens com redes de neblina posicionadas a 100, 200, 300, 650 e 850m de distância a partir do abrigo, ao longo de duas trilhas. Entre 02/2016 e 03/2019, um total de 551 indivíduos de C. perspicillata foram capturados (286 fêmeas e 265 machos) em 19 sessões. Destes, 208 foram recapturas de animais marcados no abrigo. A proporção de animais marcados em relação ao total foi relacionada ao sexo, distância do abrigo, trilha, categoria etária (CE) e estação (seca/chuvosa), utilizando modelos lineares generalizados. Os modelos ajustados segundo critério de informação de Akaike indicaram uma maior importância da distância do abrigo, sexo, categoria etária e trilha. A estação foi marginalmente relevante. O modelo com melhor ajuste apresentou um pseudo r-quadrado de 9%. A proporção de animais marcados diminui com a distância do abrigo. A cada 100 metros diminui em 1,13 a chance de capturar um morcego marcado, sendo a captura de animais marcados a 850 metros ou mais um evento raro. A tendência observada foi mais forte para machos, em particular na estação seca. A fidelidade ao abrigo para machos desta espécie é alta devido à sua organização social. Os machos aumentam seu sucesso reprodutivo controlando um território dentro do abrigo, onde as fêmeas permanecem durante o período reprodutivo formando um harém. Os machos que não conseguem controlar um território dependem de acasalamentos oportunistas, diminuindo seu sucesso reprodutivo. A competição entre os machos para controlar os melhores territórios dentro do abrigo faz com que estes permaneçam nas áreas mais próximas ao abrigo, mesmo na estação seca. A baixa importância da estação nos modelos pode estar associada a uma diferença no esforço amostral, mais baixo na estação chuvosa, resultando em pouca resolução. Animais jovens marcados foram raramente capturados a mais de 100 m do abrigo. A proporção de animais marcados indicou preferência no deslocamento ao longo de uma das trilhas, com acesso a áreas com maior possibilidade de forrageio. Estudos de marcação e recaptura podem produzir resultados com boa resolução, principalmente para deslocamentos em pequena escala espacial e temporal.

Palavras-chave

Marcação-recaptura, Phyllostomidae, Chiroptera, modelos de forrageamento

Financiamento

CAPES, CNPq e FAPERJ

Área

Ecologia

Autores

Breno Mellado da Rocha, Kayla Urbanowski, Marcelo Rodrigues Nogueira, Leandro Rabello Monteiro