X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

INSTABILIDADE NO DESENVOLVIMENTO E POTENCIAL REPRODUTIVO EM CAROLLIA PERSPICILLATA

Resumo

A instabilidade no desenvolvimento decorre da incapacidade de um genótipo em tamponar distúrbios que ocorrem durante a ontogenia, gerando diferenças na simetria bilateral. Devido a um efeito sistêmico de “maus genes”, a instabilidade no desenvolvimento pode estar negativamente associada ao valor adaptativo, em seus componentes de sobrevivência, reprodução e crescimento. O objetivo deste trabalho foi testar a hipótese de que a instabilidade no desenvolvimento, medida pela assimetria dos antebraços, prediz o potencial reprodutivo no morcego Carollia perspicillata. Acompanhamos duas colônias localizadas na Reserva Biológica União, RJ entre 2013-2017. Neste estudo, foram utilizados 150 machos e 89 fêmeas, parte de um estudo de longa duração com marcação e recaptura. Os adultos foram marcados com colares de aço inoxidável e os jovens com anilhas de alumínio no antebraço. Em cada sessão de captura bimestral, os animais foram avaliados em relação à categoria etária, estado reprodutivo, massa corporal, medição de antebraços e testículos. O comprimento dos testículos (relativo ao tamanho corporal) indica o potencial reprodutivo nos machos quando há competição de esperma, pois está associado à quantidade e à qualidade do esperma produzido. Apenas machos com testículos maiores que 6,5mm (reprodutivos) foram utilizados. O potencial reprodutivo das fêmeas foi avaliado a partir das evidências de uma ou duas gestações/ano. Apenas fêmeas com capturas suficientes para resolução temporal foram incluídas. Modelos lineares foram ajustados para predizer o comprimento do testículo e a probabilidade de duas gestações/ano a partir da condição corporal média (scaled mass index – SMI), comprimento do antebraço direito (CA) e assimetria do antebraço (AA). Utilizando procedimentos de seleção de modelos por critério de informação de Akaike, o modelo melhor ajustado para machos incluiu SMI (positivo), CA (positivo) e AA (negativo), explicando 14% da variação no comprimento do testículo. Para fêmeas, o modelo selecionado incluiu SMI (positivo) e AA (negativo), com um pseudo R² de 0,16. A variável com maior índice de importancia relativa para as fêmeas foi o SMI (0,99) e para os machos AA (1,00). Machos mais assimétricos possuem menores testículos (independente do tamanho e da condição física) e fêmeas com menor SMI médio possuem menor chance de terem duas gestações em um período reprodutivo, provavelmente devido ao menor acúmulo de reservas. Fêmeas mais assimétricas têm menor probabilidade de duas gestações, independente do SMI. Resultados anteriores mostraram a mesma relação entre SMI e AA com a sobrevivência de C. perspicillata. Não existe associação entre condição corporal média e assimetria nos dois sexos, o que sugere que os mecanismos responsáveis pela associação destas variáveis com o potencial reprodutivo são diferentes. O diferencial de performance que permite um acúmulo de reservas energéticas expresso no SMI pode ser independente do efeito sistêmico da instabilidade no desenvolvimento, ou o efeito é muito pequeno para ser detectado em meio ao erro de mensuração que se acumula nas diferentes variáveis. Estudos futuros devem levar em consideração a necessidade de reduzir o erro nas medições ao máximo e buscar variáveis de performance funcional adicionais para esclarecer a relação entre os preditores e os mecanismos biológicos subjacentes.

Palavras-chave

Marcação-recaptura, Phyllostomidae, Assimetria, Condição corporal, Competição de esperma

Financiamento

CAPES, CNPq e FAPERJ

Área

Evolução

Autores

Breno Mellado da Rocha, Marcelo Rodrigues Nogueira, Leandro Rabello Monteiro