Dados do Trabalho
TÍTULO
SAZONALIDADE EM ESTIMATIVAS DE PROBABILIDADE DE SOBREVIVENCIA E CONDIÇAO CORPORAL EM CAROLLIA PERSPICILLATA.
Resumo
Estimativas de sobrevivência na natureza são importantes parâmetros em estudos de evolução e ecologia, pois permitem a predição de mudanças demográficas por modelos populacionais. Sobrevivência também é um componente do valor adaptativo, que mede tanto a intensidade quanto a direcionalidade da seleção quando associado a variáveis individuais. O objetivo deste trabalho foi avaliar a variação temporal da sobrevivência em uma população de Carollia perspicillata, relativa à condição corporal e à sazonalidade do ambiente. Acompanhamos duas colônias localizadas dentro dos limites da Reserva Biológica União - RJ. Foram marcados 1588 indivíduos (894 fêmeas e 694 machos) capturados entre 01/2013 e 04/2019. Os adultos foram marcados com colares e os jovens com anilhas de alumínio no antebraço. O histórico de captura individual foi associado às covariáveis sexo, índice de condição corporal (Scaled Mass Index – SMI, variando no tempo), assimetria do antebraço (AA) e comprimento do antebraço direito (CA), além da ocasião de captura como variável temporal. As probabilidades de sobrevivência (Phi) e recaptura (p) foram estimadas por modelos de marcação-recaptura Cormack-Jolly-Seber para populações abertas. O modelo global incluindo todas as covariáveis obteve melhor ajuste de acordo com o critério de informação de Akaike. Os coeficientes relacionando as covariaveis com Phi foram positivos para SMI e CA, e negativo para AA. Machos apresentaram probabilidades de sobrevivência menores que as das fêmeas, seguindo um padrão comum a outras espécies de morcegos. A condição corporal SMI obteve maior índice de importância relativa dentre as variáveis (1.00) mostrando a forte influência sobre a sobrevivência. Foram observadas flutuações sazonais na condição corporal, na probabilidade de sobrevivência e na probabilidade de recaptura, que parecem estar associadas ao ciclo reprodutivo e à movimentação sazonal dos animais entre o abrigo e áreas de forrageio. Os períodos secos mostraram menores sobrevivência (Phi~0,3) e recaptura, pois a maior parte dos animais abandona a colônia para forragear em áreas distantes, sendo que uma proporção não retorna para o período reprodutivo. É possível que alguns indivíduos se estabeleçam em outras colônias, confundindo a estimativa de sobrevivência com emigração. No entanto, nossos levantamentos em outras colônias próximas mostrou que esta dispersão não é um fenômeno comum. A estação chuvosa coincide com o período reprodutivo e apresenta picos de sobrevivência, acima de 0,9. No final do período reprodutivo, os animais costumam apresentar grande variabilidade de condição física, sendo as fêmeas mais afetadas, o que deve estar associado ao elevado custo energético da gestação, lactação e transporte do filhote em voo. Machos apresentaram menor variação de SMI ao longo do ano. A estação seca, provavelmente por escassez de alimentos, impõe períodos de intensa seleção, quando os animais precisam manter a condição corporal em bom estado buscando áreas de forrageio distantes do abrigo principal, aumentando o gasto energético e a exposição à predação. Os resultados mostram também que a condição corporal e a assimetria dos antebraços podem ser utilizados como marcadores de sobrevivência em Carollia perspicillata em estudos ecológicos e evolutivos. Estudos futuros poderão indicar mais claramente os mecanismos responsáveis por esta associação.
Palavras-chave
Marcação-recaptura, Phyllostomidae, Chiroptera, Assimetria
Financiamento
CNPq, CAPES, FAPERJ
Área
Evolução
Autores
Breno Mellado, Marcelo Rodrigues Nogueira, Leandro Rabello Monteiro