Dados do Trabalho
TÍTULO
DIMORFISMO SEXUAL E PARTIÇAO DE NICHO TROFICO ENTRE MACHOS E FEMEAS DE GALICTIS CUJA (CARNIVORA MUSTELIDAE)
Resumo
A seleção natural pode atuar de maneira diferente entre machos e fêmeas. Fatores como a alometria e história filogenética de cada táxon podem resultar em dimorfismo de características morfológicas, fisiológicas e comportamentais. Dentre os grupos onde o dimorfismo sexual é muito comum está a família Mustelidae. Este grupo de carnívoros é um modelo interessante para análise deste tipo de diferenças, pela diversidade ecomorfológica encontrada na Família, fruto da rápida diversificação pela qual passou. O furão-pequeno, Galictis cuja, é um pequeno carnívoro desta família, que é amplamente distribuído pela América do Sul, ocorrendo em uma grande variedade de ambientes. O macho desta espécie é consideravelmente maior que a fêmea, pesando em torno de 1 - 2,7 kg, enquanto a fêmea tem uma média de peso de 0,8 – 1,5 kg. Apesar de ser considerado um carnívoro comum na região do Pampa do Rio Grande do Sul, praticamente não há informação disponível sobre a espécie, desde a dieta até os dados sobre o dimorfismo sexual. Portanto, o objetivo deste trabalho é relacionar a dieta do Galictis cuja com o seu dimorfismo sexual. Para tanto, foi analisado o conteúdo estomacal de 10 machos e 9 fêmeas da espécie G. cuja, vítimas de atropelamento na BR-290, coletados no período de junho de 2014 a agosto de 2018. Com o auxílio de microscópio estereoscópico, foram selecionados itens que permitissem a identificação dos itens consumidos, no material residual não digerido coletado dos estômagos. As presas foram identificadas até o menor nível taxonômico possível através da comparação de pelos, escamas, dentes e penas à coleção de referência do Laboratório de Biologia de Mamíferos e Aves (LABIMAVE) da Universidade Federal do Pampa. O peso médio dos G. cuja disponíveis na coleção de mamíferos do laboratório foi de 1,505 kg, sendo que machos foram significativamente maiores do que fêmeas (t=8,509; p<0,001). Os machos apresentaram peso médio de 1,87 kg versus 1,00 kg das fêmeas. Foram identificados seis táxons na dieta das fêmeas e oito táxons na dieta dos machos. Além destes, em ambos houve a ocorrência de um pequeno mamífero não identificado. Mamíferos foram as presas predominantes, perfazendo 75% dos itens para as fêmeas e 64% para os machos. Porém, Cavia aperea e Holochilus brasiliensis que são roedores relativamente grandes (550g e 200g respectivamente), representaram 50% dos itens consumidos pelas fêmeas, ao passo que para os machos este percentual foi de apenas 21%. Já roedores pequenos (<60g) representaram 33% dos itens consumidos pelas fêmeas e 43% dos itens consumidos pelos machos. Assim, a dieta dos machos se mostrou mais generalista, com a predação de roedores menores e com uma frequência de anfíbios e repteis maior do que a apresentada pelas fêmeas. Este é um resultado inesperado uma vez que, devido ao maior tamanho dos machos, seria esperado que estes predassem presas de maior tamanho que as fêmeas. Embora seja necessário um aprofundamento destas análises, com uma amostragem mais representativa, é possível supor que tal diferença esteja relacionada a uma maior demanda energética para a reprodução nas fêmeas.
Palavras-chave
Galictis cuja; Dimorfismo sexual; nicho trófico; Mustelidae;
Área
Ecologia
Autores
Marina AIKO NISHIYAMA, Raissa Migliorini