X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

FATORES HISTORICOS E ECOLOGICOS NA ESTRUTURAÇAO DA VARIAÇAO MORFOMETRICA FEMORAL DOS RATOS-DE-ESPINHO (ECHIMYIDAE, RODENTIA)

Resumo

<p>Dentre os roedores caviomorfos, Echimyidae (ratos-de-espinho, <em>hutias</em> e ratão-do-banhado) destaca-se pela diversidade filogenética e ecológica, compreendendo aproximadamente 100 espécies viventes, incluindo formas arborícolas, ambulatoriais, fossoriais e semi-aquáticas. Estes diferentes hábitos locomotores impõem demandas biomecânicas distintas que devem atuar como fatores importantes na disparificação morfológica das estruturas responsáveis pela locomoção, como o esqueleto apendicular. Neste trabalho hipotetizamos que os fêmures dos equimídeos reflitam as diferentes demandas biomecânicas dos hábitos locomotores assim como sua história filogenética. Para testar esta hipótese, foram examinados fêmures de 116 indivíduos de 15 gêneros distribuídos em 4 principais clados (Myocastorini: <em>Myocastor</em>, <em>Proechimys</em>, <em>Callistomys</em> e <em>Thrichomys</em>; Euryzygomatomyinae: <em>Clyomys</em>, <em>Euryrygomatomys</em> e <em>Trinomys</em>; Carterodontinae: <em>Carterodon</em>; e Echimyini: <em>Dactylomys</em>, <em>Echimys</em>, <em>Isothrix</em>, <em>Kannabateomys</em>, <em>Lonchothrix</em>, <em>Makalata</em> e <em>Phyllomys</em>). De cada espécime foram tomadas 20 medidas lineares com paquímetro digital. Uma Análise de Componentes Principais (ACP) foi empregada para identificar as principais fontes de variação morfométrica. Análises Discriminantes (AD) e Análise Canônica baseadas em dados corrigidos pelo tamanho foram empregadas para testar a diferenciação morfométrica entre gêneros, subfamílias e hábitos locomotores. Com um arcabouço filogenético derivado de dados filogenômicos recentemente publicados, a presença de sinal filogenético foi testada usando o λ de Pagel dos escores ao longo de eixos de Principal Componente Filogenético. Visto que a subfamília caribenha Capromyinae não foi amostrada, utilizou-se o método de λ de Pagel por este ser pouco afetado por dados faltantes. A ACP mostrou que espécies semi-aquáticas, arborícolas e terrestres (ambulatorial + fossorial) ocupam regiões distintas do morfoespaço formado por PC1 (tamanho) e PC2 (principal eixo de forma), que explicam respectivamente 83,9% e 3,9% da variação. Em contraste, ao longo destes eixos observou-se forte sobreposição entre gêneros e subfamílias. As AD da forma femoral alocaram corretamente 100% dos espécimes em seus respectivos hábitos locomotores e apenas 92,2% e 82,6% em seus gêneros e subfamílias. A variação de tamanho e forma femoral mostrou significativo sinal filogenético, ambos com λ=1,05; p&lt;0,001. A Análise Canônica sugere que, em convergência com especializações reportadas em outros roedores, os fêmures dos equimídeos arborícolas caracterizam-se por apresentar colo robusto e curto, fossa intercondilar larga, trocânter maior curto e largo diâmetro médio-lateral no nível do trocânter menor; os terrestres apresentam a morfologia oposta. A diferença entre ambulatoriais e fossoriais é mais sutil, tendo esses últimos diáfise e trocânter maior relativamente mais curtos, colo robusto, fossa intercondilar estreita e largo diâmetro anteroposterior no nível do trocânter menor. Dentre os equimídeos terrestres, a forma de<em> Thrichomys pachyurus</em> converge com os arborícolas, o que é congruente com a observação de que esta espécie é eventualmente capturada sobre árvores; <em>Trinomys yonenagae</em> destaca-se por apresentar diáfise e trocânter maior bastante alongadas, convergente com espécies saltatoriais. Dentre os arborícolas, <em>Callistomys pictus</em> destaca-se por notável convergência evolutiva, apresentando o fêmur mais especializado da família. Os resultados mostram que a disparidade morfológica femoral em Echimyidae é parcialmente estruturada pela filogenia e apresenta forte componente associado às demandas biomecânicas dos diferentes hábitos locomotores. A identificação de informação filogenética e ecomorfológica no fêmur é de potencial interesse aos futuros estudos sistemáticos e evolutivos envolvendo os ratos-de-espinho.</p>

Palavras-chave

<p>adaptação, Caviomorpha, esqueleto apendicular, fêmur, locomoção</p>

Financiamento

<p>Capes (Bolsa de Mestrado)</p>

Área

Anatomia e Morfologia

Autores

William Corrêa Tavares, Thomas Furtado da Silva Netto, Leila Maria Pessôa