X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

EVOLUÇAO DA ECOLOCALIZAÇAO EM MORCEGOS

Resumo

Morcegos são uma linhagem única entre os mamíferos por terem a capacidade de voo e ecolocalização. Os fósseis mais antigos, que datam do Eoceno, já exibem esses dois caracteres. Entretanto, ainda é muito discutido se o ancestral comum dos morcegos possuía ou não habilidade de ecolocalização, e quais aspectos de história de vida estariam associados à evolução desse atributo. Os morcegos que ecolocalizam emitem o som pela laringe ou por estalos de língua. As espécies que emitem som pela laringe ainda podem ser subdivididas em três categorias relacionadas à frequência dos sons: Multi-Harmônica, Frequência Constante e Frequência-modulada. Hipóteses sugerem que a perda da ecolocalização pode estar correlacionada com (1) hábito diurno, já que essas espécies utilizariam a visão para localizar presas; (2) com a dieta, já que espécies frugívoras dependem da visão e olfato para localizar frutos; ou (3) com o tamanho corporal, pela ecolocalização requerer alto valor energético, logo, espécies de grande tamanho corporal enfrentariam uma demanda conflitante. Aqui estimamos o estado ancestral da ecolocalização utilizando mapeamento estocástico de caracter e utilizamos uma regressão logística filogenética para testarmos as três hipóteses acima. Utilizamos a mais completa filogenia datada que inclui 63% das espécies viventes de morcegos, totalizando 699 espécies e usamos as informações disponíveis na base de dados EltonTraits para obter informações de dieta (não-frugívoro= 0; frugívoro= 1), atividade circadiana (diurno= 0; noturno= 1) e tamanho corpóreo. Encontramos que o ancestral comum mais recente a todos os morcegos provavelmente possuía ecolocalização, mas a ecolocalização nasal e laringial foram perdidas posteriormente na família Pteropodidae e re-adquirido no gênero Rousettus desta família derivado de estalos de língua. A incidência da ecolocalização foi relacionada negativamente tanto com a dieta (beta= -5.48 + 1.32; P < 0.001) quanto com o tamanho do corpo (beta= -0.03 + 0.008; P < 0.001), mas não com a atividade circadiana (beta= -1.33 + 12.6; P = 0.91). A presença da ecolocalização parece ser adaptativa e ter influenciado a diversificação de morcegos. A perda desta característica pode estar relacionada com 1) a dieta frugívora, do qual custos energéticos associados à ecolocalização seriam elevados e não aumentariam as chances de localizar o fruto e (2) com o aumento do tamanho corpóreo. Como a ecolocalização exige muito gasto energético, as espécies parecem enfrentar uma demanda conflitante, em que o aumento do corpo estaria negativamente correlacionado com a ecolocalização. Grande parte da energia gasta com a ecolocalização é resultado da contração de grupos de músculos peitorais e escapulares. Assim, esse gasto seria maior para espécies que possuem maiores tamanhos corporais, necessitando mais energia para contração do que espécies menores. O aumento do tamanho corpóreo pode ter evoluído em resposta à ocupação de áreas abertas. Os gêneros Eidolon e Pteropus tem asas mais longas e estreitas, o que permite um voo mais duradouro e eficiente em áreas abertas. A atividade circadiana parece não ser correlacionada com a perda da ecolocalização. Porém, essa relação parece ser complexa e pouco compreendida.

Palavras-chave

Frugivoria, Atividade circadiana, Pteropodidae, Tamanho do corpo, macroevolução

Financiamento

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - UFMS

Área

Evolução

Autores

Laura Bonin, Philip Teles Saores, Adriana Carolina Acero-Murcia, Fernando Gonçalves, Alan Eriksson, Diogo Borges Provete