X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

RESTABELECIMENTO DAS INTERAÇOES ECOLOGICAS ATRAVES DA REINTRODUÇAO DE ANTAS TAPIRUS TERRESTRES NA MATA ATLANTICA DO RIO DE JANEIRO

Resumo

A anta brasileira Tapirus terrestris é um mamífero herbívoro nativo da Mata Atlântica. Possui dieta composta de folhas, fibras e frutos, com grande capacidade de dispersar sementes. Devido ao seu tamanho, a anta é capaz de ingerir sementes grandes, que podem germinar longe da planta-mãe em suas fezes. A espécie é considerada vulnerável pela IUCN e está extinta há mais de 100 anos no Estado do Rio de Janeiro. O presente estudo teve os objetivos de caracterizar a dieta e a capacidade de dispersão de sementes das antas reintroduzidas na Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA), uma unidade de conservação particular localizada no município de Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro (22°22’12” S – 22°27’18” S e 42°42’25” O – 42°49’19” O). Os objetivos específicos foram descrever as espécies vegetais que compõem a dieta da anta, identificar as sementes presentes nas suas fezes, determinar se estas germinaram após passarem pelo trato gastrointestinal do animal e quais espécies vegetais são dispersadas por ela. Foram realizadas observações focais das antas para identificar as plantas e quais as partes foram consumidas. As árvores e arbustos consumidos foram georreferenciados. Por busca ativa nas áreas ocupadas pelas antas, foram coletadas 23 fezes. As fezes foram triadas em água corrente com auxílio de peneira de malha de 0,85mm para separar as sementes inteiras e fragmentos de sementes presentes nas fezes. Os locais onde as amostras fecais foram encontradas foram georreferenciados e descritos: tamanho, isoladas ou em latrinas, frescas ou antigas e a distância para o corpo d’água mais próximo. As latrinas foram acompanhadas mensalmente para verificar a germinação das sementes. A partir das observações focais e da triagem das fezes coletadas no local de reintrodução, foram identificadas 32 espécies de plantas, de 22 famílias diferentes, que compõem a dieta das antas: Annona mucosa, Artocarpus heterophyllus, Cariniana legalis, Cassia grandis, Cecropia pachystachya, Cucurbita spp., Elaeis guineensis, Elaeocarpus serratus, Eriobotrya japonica, Gallesia integrifolia, Genipa americana, Guarea guidonia, Inga edulis, Jacaratia spinosa, Libidibia ferrea, Myrsine coriacea, Nectandra membranacea, Piptadenia gonoacantha, Piptadenia paniculata, Poincianella pluviosa, Pouteria caimito, Pouteria durlandii, Pradosia lactescens, Psidium guajava, Siparuna guianensis, Solanum pseudoquina, Swartzia langsdorffii, Syagrus romanzoffiana, Syzygium jambolanum, Syzygium malaccense, Tibouchina sp. e Trema micrantha. A principal espécie encontrada germinando nas fezes foi Syagrus romanzoffiana. A taxa de sobrevivência média de plântulas nas latrinas foi de 0,251±0,164. A palmeira jerivá apresentou alta densidade nas fezes. Além disso, foi observada a passagem de outras espécies nas latrinas: gambá Didelphis aurita, teiu Tupinambis merianae, paca Cuniculus paca, tatu-galinha Dasypus novemcinctus e besouros rola-bosta. A reintrodução das antas na REGUA parece favorecer a dispersão de sementes, inclusive a de palmeiras com grandes sementes. A atração das fezes das antas por outras espécies pode favorecer a distância final de dispersão das sementes através de processos de dispersão secundária.

Palavras-chave

Perissodactyla; dieta; dispersão de sementes; Ecologia; Biologia da Conservação

Financiamento

IFRJ, CNPq, FAPERJ e Fundação O Boticário de Proteção à Natureza

Área

Ecologia

Autores

Natalia Barros, Bianca Corrêa Tinoco, Islani Felício dos Santos, Aline Damasceno de Azevedo, Maron Galliez