Dados do Trabalho
TÍTULO
ROEDORES NA DIETA DA CORUJA TYTO FURCATA: HA VARIAÇOES TEMPORAIS SINCRONICAS NA FREQUENCIA E ABUNDANCIA DE PREDAÇAO?
Resumo
Roedores compõem a base da dieta da coruja-de-igreja Tyto furcata (Temminck 1827) e seu consumo pode variar temporalmente e espacialmente sobre a influência de características do habitat e da sazonalidade climática. A espécie pode complementar sua dieta com marsupiais, morcegos, aves, anfíbios e insetos em diferentes proporções. Apesar de existirem informações na literatura indicando que a espécie tem marcada preferência por roedores e que seu consumo pode sofrer variação temporal, nunca foi investigada a relação entre a frequência de inclusão de roedores na dieta e o número de roedores predados ao longo do ano. A relação entre esses dois parâmetros pode indicar que o consumo de roedores é condicionado por picos em sua abundância e a coruja tem um comportamento altamente oportunista durante esses períodos. O objetivo do trabalho é avaliar a variação temporal na predação de roedores por T. furcata, testando a hipótese de que existam variações temporais sincrônicas na frequência e abundância de predação de roedores. O estudo foi conduzido de outubro de 2016 a setembro de 2017 no município de Rio Grande, no extremo sul da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, no Bioma Pampa. Foram coletados egagrópilos em 10 abrigos de T. furcata, o conteúdo dos egagrópilos foi analisado quanto a presença e ausência de roedores e foi feita a quantificação do número mínimo de indivíduos presentes em cada egagrópilo. Foi obtido um total de 1989 egagrópilos, dos quais 1801 (90,5%) continham roedores. Foram coletados 422 (21,21%) egagrópilos na primavera, dos quais 394 (93,4%) continham roedores; 514 (25,84%) no verão, dos quais 379 (73,7%) continham roedores; 378 (19%) no outono, dos quais 362 (95,8%) continham roedores e 675 (33,93%) no inverno, dos quais 666 (98,7%) continham roedores. Foram predados 1739 indivíduos: 249 (14,31%) foram consumidos na primavera, 484 (27,83%) no verão, 369 (21,21%) no outono e 637 (36,63%) no inverno. Os dados obtidos revelam alterações na frequência e abundância do consumo de roedores nas diferentes estações do ano de forma não sincrônica. O inverno foi a estação do ano que apresentou a maior abundância total de roedores consumidos e praticamente todos os egagrópilos analisados continham esta presa. Já no verão, a abundância total de roedores consumidos também foi elevada, entretanto, a presença desta presa nos egagrópilos correspondeu a menor frequência observada. Na primavera e outono, a frequência de consumo é alta, porém o número de roedores predados é menor do que no verão e inverno. Esse resultado está, provavelmente, relacionado com a dinâmica de populações de roedores na região e com a abundância de outras presas disponíveis para consumo. O trabalho evidencia o oportunismo de T. furcata, que altera seu comportamento de predação nas diferentes estações do ano, flexibilidade vital para a manutenção de suas populações no sul do Brasil.
Palavras-chave
Ecologia Trófica, Rodentia, sazonalidade, agroecossistemas.
Área
Ecologia
Autores
Thaísa Paparazzo, Ariane Frey Machado, Helena Souza Venzke, Diego Silva Souza, Ana Maria Rui