X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

DIETA, NICHO TRÓFICO E DIMORFISMO SEXUAL EM CONEPATUS AMAZONICUS (CARNIVORA, MEPHITIDAE) EM UM AGROECOSSISTEMA NO SUDESTE DE GOIÁS

Resumo

No Brasil, o gênero Conepatus é representado por duas espécies, C. chinga e C. amazonicus, chamadas popularmente de jaritatacas. De forma geral, existe pouca informação disponível sobre ambas espécies, principalmente C. amazonicus, cuja ecologia alimentar, comportamental e parâmetros populacionais são pouco conhecidos e restrito a pequenas amostragens. O objetivo deste trabalho foi descrever a dieta, amplitude e sobreposição de nicho em C. amazonicus em uma região de Cerrado, alterada por atividades agropecuárias, e verificar a existência de dimorfismo sexual na espécie. Para descrever a dieta foram analisados os estômagos de 20 animais atropelados coletados entre 2010 e 2019, ao longo das rodovias que ligam os municípios de Cumari e Catalão (Goiás), e em áreas próximas ao Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. A cobertura vegetal adjacente aos locais de coleta é composta principalmente por pastagens exóticas de gado. Os itens presentes em cada amostra (pelos, pele, ossos, escamas, sementes, cascas e carapaças) foram identificados até o menor nível taxonômico possível e classificados em seis categorias alimentares, sendo a importância dos mesmos expressa por sua frequência de ocorrência (% de amostras). Também foram calculadas a amplitude do nicho trófico da espécie (índice de Levins, B) e a sobreposição de nicho entre os sexos (índice de Pianka, Ojk). Para verificar o dimorfismo sexual foi obtida a massa corporal dos indivíduos coletados atropelados que não sofreram grande deterioração (17 machos e sete fêmeas) e de animais adultos capturados em Cumari. Foram identificados 37 tipos de itens alimentares na dieta de jaritatacas, sendo 34 de origem animal e três de origem vegetal. Insetos foram a categoria alimentar mais frequente (100%, N=20), seguido por mamíferos e escamados (25%, N=5 cada categoria), anuros (15%, N=3), frutos (10%, N= 2) e aves (5%, N=1). Dados para amplitude de nicho (B = 0,14) e sobreposição de nicho (Ojk = 0,53) sugerem que jaritatacas em agroecossistemas possuem uma dieta especialista, associada à alta predação de insetos e sobreposição parcial de nicho entre os sexos. A massa média dos machos (2,54 Kg ± 0,32) foi 26% maior que a massa média das fêmeas (2,01 Kg ± 0,36), sendo a diferença estatisticamente significativa (t = 3,527; g.l. = 22; p = 0,0019). Os resultados obtidos neste estudo corroboram o hábito insetívoro descrito para a espécie, entretanto o consumo de outros itens sugere a capacidade de C. amazonicus utilizar os recursos disponíveis no ambiente. Apesar de insetos serem presas que oferecem baixa resistência física à predação e estarem disponíveis em todos os ambientes terrestres, mesmo os modificados para atividades agropecuárias, adaptações comportamentais e morfológicas apresentadas por jaritatacas (por exemplo, hábito noturno, garras para escavação, faro apurado) favorecem o consumo dessas presas. Este é o primeiro trabalho a demonstrar a ocorrência de dimorfismo sexual em C. amazonicus e corrobora a ocorrência deste atributo esperado para espécies de mefitídeos.

Palavras-chave

Cerrado; Hábitos alimentares; Biometria; Jaritatacas; Neotropical.

Área

Ecologia

Autores

Giulianny Aparecida Alves Machado, Fernanda Cavalcanti de Azevedo, Mozart Caetano de Freitas-Júnior, Caio Filipe da Motta Lima, Kátia Gomes Facure Giaretta, Frederico Gemesio Lemos