Dados do Trabalho
TÍTULO
USO DE LATRINAS POR JAGUATIRICA (LEOPARDUS PARDALIS) EM UM REMANESCENTE DE MATA ATLANTICA NO SUDESTE DO BRASIL
Resumo
As latrinas consistem em locais com acúmulo de fezes, deposição de urina e/ou secreção glandular, tendo como função sinalizar sobre a presença de determinada espécie e informar sobre aspectos distintos individuais, funcionando como um elemento de comunicação inter e intraespecífico. O presente estudo objetivou caracterizar o uso de latrinas por jaguatiricas (Leopardus pardalis) em um remanescente de Mata Atlântica no sudeste do Brasil, considerando seu compartilhamento com outras espécies e com outros indivíduos da mesma espécie. O estudo foi realizado na Reserva Natural Vale (Linhares/ES), considerando o monitoramento de oito latrinas distribuídas em diferentes partes da reserva (distância média=8,42 ± 3,35; variação=2,66-14,19). Os dados foram obtidos por meio de armadilhas fotográficas (fotografias e vídeos), entre março de 2017 e janeiro de 2018, totalizando 11 meses de amostragem. Para caracterização do uso das latrinas, foram analisados os comportamentos realizados por todas as espécies registradas. As jaguatiricas foram identificadas com base nos padrões individuais de coloração da pelagem, sexadas por meio de caracteres sexuais externos e classificadas quanto à classe etária. Foram obtidos 962 registros de vertebrados (1.624 armadilhas-dia; sucesso de captura=59,2), sendo a Classe Mammalia (91%; 20 espécies) a mais registrada, seguido da Classe Aves (7%; 3 espécies) e da Classe Reptilia (2%; 1 espécie). Entre os mamíferos, L. pardalis foi a espécie com maior número de registros (n=254; 29%), seguida do quati (Nasua nasua; n=169; 19%) e do cateto (Pecari tajacu; n=108; 12%). Entre as aves, a espécie mais registrada foi o macuco (Tinamus solitarius; n=42; 68%). O réptil registrado foi o teiú (Salvator merianae; n=22). Dez diferentes tipos de comportamento foram registrados, sendo os mais detectados “Passou sobre a latrina” (n=541; 33%) e “Farejou o ambiente” (n=538; 33%). A espécie que realizou maior número de comportamentos foi L. pardalis (n=9 comportamentos), seguido de N. nasua (n=7) e mão-pelada (Procyon cancrivorus; n=7). Além de L. pardalis, outras espécies de mamíferos interagiram diretamente com as latrinas (“Farejou a latrina”, “Esfregou-se na latrina” e/ou “Depositou fezes/urina”), sendo N. nasua, Procyon cancrivorus, irara (Eira barbara), tamanduá-de-colete (Tamandua tetradactyla), anta (Tapirus terrestris) e cutia (Dasyprocta leporina). Dos registros de L. pardalis, 49% eram de fêmeas, 40% de machos e 11% de indivíduos indeterminados. No total, foram identificados 22 indivíduos de L. pardalis, sendo oito machos adultos, 12 fêmeas adultas e duas fêmeas filhotes. Indivíduos machos foram registrados em mais de uma latrina (média=2,13 machos/latrina) e as fêmeas se restringiram a apenas uma latrina (média=1,50 fêmea adulta/latrina). Sete latrinas tiveram registros de ambos os sexos e em apenas uma houve registro de filhotes. Cinco registros de casais foram obtidos em quatro latrinas. Os locais utilizados pelas jaguatiricas também foram utilizados por outras espécies para deposição de fezes, especialmente por outros carnívoros, evidenciando que pode haver sobreposição interespecífica no uso das latrinas, não consistindo necessariamente em sítios de marcação territorial exclusivos. As latrinas confirmaram ser uma importante fonte de informações para estudos de L. pardalis, contribuindo também para o melhor entendimento de sua interação com outras espécies quanto ao uso de sítios de marcação territorial.
Palavras-chave
Armadilha fotográfica, Comportamento, Comunicação interespecífica, Comunicação intraespecífica, Marcação territorial.
Financiamento
FAPES-VALE (Projeto 510/2016) e UVV (Projeto M01-2017PI002)
Área
Ecologia
Autores
Laura Martins Magalhães, Ana Carolina Srbek-Araujo