X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

O SOM QUE VEM DAS PROFUNDEZAS: ATRIBUINDO VOCALIZAÇOES GRAVADAS NO OCEANO ATLANTICO EQUATORIAL A BALEIA-DE-OMURA (BALAENOPTERA OMURAI)

Resumo

Descrita em 2003 a partir de oito exemplares caçados em baixas latitudes do Indo-Pacífico, a baleia-de-Omura (Balaenoptera omurai) apresenta hoje uma distribuição esperada em todos os oceanos. De modo geral são poucos registros confirmados e há apenas dois encalhes publicados no Atlântico. O presente estudo utiliza gravações realizadas pelo Projeto COLMEIA o qual instalou nas proximidades do Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP), 00º53´ N, 29°20´ W Brasil, três sistemas de hidrofones autônomos fixos com uma taxa de amostragem de 240 Hz usando uma conversão analógico-digital de 24 bits e sensibilidade do hidrofone de -163,5 dB re:1 V/Pa. Cada hidrofone foi ancorado em uma profundidade de cerca de 770-778 m, em uma localidade com batimetria média de 3.000 m. Foram realizados 326 dias de registros sonoros entre 02 de fevereiro e 25 de dezembro de 2013. A vocalização de B. omurai foi encontrada na região do ASPSP (n=36) e foram comparadas com as vocalizações atribuídas a essa espécie na baía de Nosy, Madagascar, Oceano Índico (n= 22). As vocalizações na região do ASPSP apresentam largura de banda entre 13,50 Hz e 51,50 Hz, similar àquelas canções oriundas das baleias-de-Omura de Madagascar (15-50 Hz). Além disso, não houve diferença significativa entre os valores de frequência dominante dos sons captados no entorno do ASPSP (33,66 Hz) e de Madagascar (33,81 Hz) (t= -0.60; p= 0.095). Adicionalmente, a análise preliminar destes dados permitiu verificar padrões de ocorrência, distribuição e sazonalidade para a atividade acústica dessa espécie críptica. Foi possível registrar sazonalidade com uso de modelo de detector automático XBAT, incluindo detecções de vocalizações (N = 65.606) entre fevereiro e agosto, e novamente em novembro e dezembro. Junho (45%) correspondeu ao mês com maior número de registros de unidades, seguido por maio (33%) e abril (12%). As taxas de detecção diminuíram nos meses de agosto (0,41%), novembro (0,40%) e dezembro (1,61%). Todas as detecções no entorno do ASPSP ocorreram em sequências rítmicas, como também descrito como característico de B. omurai em Madagascar e, portanto, podem ser consideradas como uma canção típica. Este é o primeiro registro de emissões sonoras de B. omurai e de sua ocorrência em águas profundas do Oceano Atlântico, ampliando significativamente sua área de distribuição. Este estudo demonstra o uso e efetividade do monitoramento acústico de cetáceos com hidrofones autônomos fixos que, dessa forma, torna-se instrumento essencial para o gerenciamento e manejo de áreas de conservação destas espécies.

Palavras-chave

Balaenoptereridae, Balaenoptera omurai, Oceano Atlântico, Monitoramento acústico passivo, Bioacústica

 

Financiamento

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superios - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 (Bolsa de doutorado)  

Área

Ecologia

Autores

Sergio Carvalho Moreira, Marcelo Weksler, Marcia Maia, Alexey Sukhovich, Jean-Yves Royer, Milton C. C. Marcondes, Salvatore Cerchio, Salvatore Siciliano, Renata S. Sousa-Lima