Dados do Trabalho
TÍTULO
MORCEGOS INSETIVOROS RESPONDEM DE MANEIRA HETEROGENEA A DIFERENTES GRADIENTES DE ANTROPIZAÇAO NA CAATINGA
Resumo
A perda da biodiversidade devido às pressões antrópicas é um fator preocupante. A Caatinga, terceiro bioma mais ameaçado do Brasil, tem ~63% de sua área ocupada por sistemas antropogênicos, mas pouco é sabido sobre o impacto desta perturbação sobre sua biota. Além de elevada riqueza (~100 espécies), morcegos desempenham importantes papéis ecológicos na Caatinga, e entender como eles respondem aos impactos antrópicos é altamente desejável devido à acelerada degradação do bioma. Utilizando bioacústica, investigamos como morcegos insetívoros respondem a um gradiente de perturbações antrópicas na Caatinga. O estudo foi conduzido em 19 parcelas amostrais do Projeto Ecológico de Longa Duração, no Parque Nacional do Catimbau (PELD-Catimbau), entre 2014 e 2015 (total de 35 noites e 14.625 minutos de gravações). O Global multi-metric CAD index (GMDI) é um dos índices utilizados pelo PELD-Catimbau para mensurar de 0 a 100 a intensidade dos distúrbios antrópicos em cada parcela, e quanto maior o valor, maior o distúrbio. Foram instalados gravadores em parcelas com GMDI variando de 2.7 a 58.0, em um protocolo de 3 min. gravação/12 min de intervalo, das 17:15h às 05:15h. Foram extraídas as frequências máxima e mínima, frequência de maior energia, intensidade e duração dos sinais gravados, e estes foram agrupados em sonotipos através de uma Análise de Função Discriminante para posterior comparação com a literatura. Sinais de feeding buzz (FB) e social calls (SC) também foram contabilizados. Testamos a relação entre o GMDI e riqueza de espécies, atividade, número de FB e SC. Considerando que molossídeos podem tolerar a degradação da vegetação devido ao forrageio em espaços abertos bem acima do nível do solo, nós não os incluímos em nossa análise. Foram identificados 18316 pulsos, 1627 sequências, 137 feeding buzzes e 36 social calls, provenientes de 31 taxa. O número de pulsos, feeding buzzes e riqueza de espécies na parcela mais preservada (GMDI 2.74; riqueza = 14 spp.; pulsos = 1590; FB = 16) foi maior que a parcela mais antropizada (GMDI 58; riqueza = 8 spp.; pulsos = 1489; FB = 6). Porém, não encontramos tendências significativas de associação do gradiente de perturbação com a riqueza (F = 0.1199; p = 0.731), atividade (F = 0.1513; p = 0.700), feeding buzzes (F= 0.3218; p = 0.575) e social calls (F = 0.051; p = 0.821). Apesar disso, observamos através de diagramas de dispersão, que espécies de Vespertilionidae e Emballonuridae responderam de forma diferente aos graus de antropização. Vespertilionídeos tenderam a aumentar a atividade e feeding buzzes nas parcelas mais antropizadas, enquanto emballonurídeos mostraram queda. Nosso estudo mostra que a fauna de morcegos, de maneira geral, não foi significativamente afetada pelo gradiente de antropização. Entretanto, detectamos respostas espécie-específicas ou mesmo grupo-específicas, e diferentes padrões emergem quando analisamos grupos específicos separadamente. Concluímos que os efeitos da antropização sobre a fauna de morcegos insetívoros na Caatinga não são homogêneos e que o estudo dos impactos humanos sobre esta biota vão requerer abordagens espécie-específicas.
Palavras-chave
bioacústica, ecolocalização, Chiroptera, perturbações antrópicas, semiárido.
Financiamento
Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), CNPq, PELD-Catimbau
Área
Ecologia
Autores
Carina Rodrigues Silva, Enrico Bernard