X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

Anomalias dentárias em Didelphis spp. (Didelphimorphia: Didelphidae) no Brasil

Resumo

O gênero Didelphis compreende seis espécies, quatro delas ocorrendo no Brasil: D. albiventris, D.aurita, D. imperfecta e D. marsupialis. Poucos trabalhos reportam anomalias dentárias para o gênero, que apresenta a fórmula dentária típica da família Didelphidae (I5/i4 C1/c1 P3/p3 M4/m4). Entretanto, dentes extranuméricos e agenesia foram registrados para D. albiventris, D. aurita e D. marsupialis. Nosso objetivo foi identificar anomalias dentárias nas espécies de Didelphis registradas no Brasil. Analisamos 157 crânios da coleção de mamíferos do CCT-UFMG, representando três espécies de Didelphis encontradas no país: D. albiventris (85), D. aurita (64) e D. marsupialis (8). Classificamos as anomalias em quatro categorias: (a) dentes extranuméricos; (b) dentes ausentes (assim considerados quando a perda não foi produzida por pertubação física, não sendo evidentes danos ao osso); (c) anomalias morfológicas (na forma ou tamanho de dentes da série normal); (d) dentes semi-inclusos. Registramos 13 indivíduos com anomalias (8,3%): nove (5,7%) D. albiventris e quatro (2,5%) D. aurita. Devido a alguns indivíduos apresentarem mais de uma alteração, observamos um total 21 casos de anomalias: cinco (23,8%) em D. aurita e 16 (76,2%) em D. albiventris. Dentes extranuméricos foram a categoria mais frequente (42,8%) com nove casos, cinco em D. aurita (2 p4d, 1 P4e, 2 i5) e quatro em D. albiventris (1 m5e, 1 M5d, 1 I6d, 1 i5e). Apenas um espécime de D. aurita, contou com mais de um dente extra (2 i5). Ao contrário do que se encontra na literatura, onde molares são o tipo de dente extra mais recorrente, registramos apenas dois casos de molares extranuméricos (22,2%), sendo na nossa amostra os incisivos extras mais frequentes (44,4%), seguidos dos pré-molares (33,3%). Documentamos quatro (19%) agenesias, todas em indivíduos de D. albiventris (1 I5e, 1 p1d, 1 M1d, 1 M1e), sendo que cada exemplar apenas um dente estava ausente. Dois exemplares (9,5%) de D. albiventris apresentaram pré-molares semi-inclusos (2 p1e), cuja erupção completa pode ter sido afetada por motivos como resistência da fibromucosa, permanência demasiada ou perda prematura do dente decíduo. Observamos dois casos de anomalia bilateral: um par extra de incisivos inferiores em um indivíduo de D. aurita e a redução dos M4 em um D. albiventris. Anomalias morfológicas representaram 28,6% dos registros, com seis ocorrências reportadas para dois indivíduos de D. albiventris, um dos quais apresentou inúmeras anomalias: M4d reduzido, i4e filiforme, c1d com cúspide anterior adicional e, C1d presumivelmente birradicular (já que, mesmo perdido, os alvéolos divididos sugerem que o canino contava com uma raiz extra). Anomalias dentárias em marsupiais ocorrem provavelmente pela interação de diferentes fatores e processos, incluindo altas taxas de endogamia e fluxo gênico limitado, além de distúrbios ambientais. Estudos recentes têm demonstrado que o desenvolvimento dentário é controlado geneticamente, portanto, hiperdontia e agenesia podem ser interpretadas como resultado de alterações nos sinais genéticos. Investigar as anomalias dentárias pode auxiliar na compreensão da evolução dos dentes nos didelfídeos, bem como em aspectos da expressão gênica, morfologia e ecologia dos marsupiais. 

Palavras-chave

dentição, dentes extranumerários, agenesia, marsupiais.

Financiamento

Não se aplica

Área

Anatomia e Morfologia

Autores

Rayane Caroline Rezende Lima, Fernando Araújo Perini, Maria Clara Nascimento Costa