X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

EFEITO DA LATITUDE SOBRE O TAMANHO CORPORAL DE MORCEGOS INSETIVOROS NEOTROPICAIS

Resumo

<p>Entre as regras ecogeográficas, a Regra de Bergmann considera que animais endotérmicos habitantes de regiões inseridas em altas latitudes tendem a ser maiores do que os indivíduos de uma mesma espécie que habitam regiões de baixas latitudes. Isso é atribuído ao fato de animais menores apresentarem maior proporção superfície-volume, resultando em maior perda de calor corporal para o meio. Entre os trabalhos que buscaram testar a aplicabilidade de tal regra, poucos foram realizados com morcegos e, em sua maioria, utilizaram abordagens limitadas a famílias ou à ordem. O presente trabalho objetivou avaliar o efeito da latitude sobre a massa corporal de morcegos insetívoros neotropicais testando a aplicabilidade da regra de Bergmann. Para realização do estudo, foram considerados dados secundários disponíveis na literatura científica para morcegos da Mata Atlântica. Para seleção das espécies, foram consideradas aquelas que apresentavam dieta insetívora e registros distribuídos ao longo do gradiente avaliado, totalizando 10 espécies distribuídas entre as famílias Molossidae (n=2 espécies), Phyllostomidae (n=3 espécies) e Vespertilionidae (n=5 espécies). Apenas indivíduos adultos foram considerados. Foram empregadas correlações lineares a fim de testar a relação entre a massa corporal e a latitude, sendo considerados significativos valores ≥0,25. Dentre os Phyllostomidae, <em>Lonchorhina aurita</em> apresentou relação positiva (r=0,44; n=134 pares), enquanto <em>Lophostoma brasiliense</em> e <em>Micronycteris megalotis </em>não apresentaram relação significativa. Já para os Vespertilionidae, <em>Eptesicus diminutus</em> (r=0,50; n=39 pares), <em>Eptesicus furinalis</em> (r=0,64; n=34 pares) e <em>Lasiurus blossevillii</em> (r=0,53; n=23 pares) apresentaram relações positivas, enquanto <em>Myotis nigricans</em> e <em>Myotis riparius</em> não apresentaram relações significativas. Para Molossidae, <em>Molossus molossus</em> apresentou relação negativa (r=-0,38; n=165 pares) e <em>Molossus rufus</em> apresentou relação positiva (r=0,25; n=52 pares). Dentre as espécies analisadas, os representantes das famílias Phyllostomidae e Vespertilionidae que apresentaram menor massa corporal (até 13g e 5 g, respectivamente) foram os que não apresentaram respostas significativas com o aumento da latitude, demostrando que não há variação significativa da massa dessas espécies ao longo do gradiente latitudinal. Para essas famílias, houve influência da latitude apenas sobre as espécies de maior porte (acima de 17g em Phyllostomidae e de 7 g em Vespertilionidae). Entre os Molossidae, a espécie com maior massa corporal (média=35g) apresentou resposta positiva para o aumento de massa à medida que se afasta do Equador. A menor espécie (média=15g), por sua vez, apresentou resposta inversa, diferente do esperado. Os resultados demonstram que a Regra de Bergmann não se aplica a todas as espécies de morcegos analisadas, sendo também variável o efeito da latitude sobre a massa corporal entre os representantes de uma mesma família. Além disso, sugere-se que haja um limite mínimo de massa corporal a partir do qual o efeito da latitude pode ser percebido em morcegos neotropicais e que tal limite é variável entre as famílias. É possível que outros mecanismos auxiliem fundamentalmente na manutenção da temperatura corpórea de espécies insetívoras de menor porte em altas latitudes (aspectos comportamentais, por exemplo) e/ou que ocorra maior incremento de massa corporal de determinados táxons em latitudes mais baixas (ecossistemas com maior produtividade), alterando o padrão esperado segundo a Regra de Bergmann.</p>

Palavras-chave

<p>Chiroptera,&nbsp;Ecofisiologia,&nbsp;Mata&nbsp;Atlântica,&nbsp;Regra de&nbsp;Bergmann.</p>

Financiamento

Área

Biogeografia/Macroecologia

Autores

Suéli Huber, Ana Carolina Srbek-Araujo