X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

DISTRIBUIÇÃO E ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA CONSERVAÇÃO DE GOLFINHOS FLUVIAIS NO PARQUE NACIONAL DE ANAVILHANAS, AMAZONAS - BRASIL.

Resumo

O boto-tucuxi Sotalia fluviatilis e o boto-vermelho Inia geoffrensis são golfinhos endêmicos da Amazônia. Apesar de não terem predadores naturais, estes cetáceos sofrem diversas ameaças, como a captura acidental em redes de pesca, o abate como retaliação aos conflitos com pescadores ou com a finalidade de uso como isca em atividades pesqueiras, e o turismo desordenado. Neste trabalho apresentamos os principais locais de ocorrência do boto-tucuxi e do boto-vermelho no Parque Nacional de Anavilhanas, Amazonas-Brasil, e as áreas que consideramos prioritárias para a conservação destes cetáceos. Os dados foram coletados em expedições de quatro dias consecutivos durante os meses de julho e outubro (2015), e janeiro e abril (2016), totalizando 16 dias de inventário e 566,73 km percorridos, cobrindo o maior número de ambientes, em distintas áreas do Parque. Foi utilizada a amostragem à distância, na modalidade de transecção de banda, com velocidade entre 10-12 km/h e distância paralela de aproximadamente 50m da margem, com dois observadores e um barqueiro, que também auxiliava nas visualizações. A altura de visualização dos observadores era de aproximadamente 1,3m acima do nível da água e o comprimento médio das transecções foi de 12,6 km. Cetáceos avistados durante os momentos de deslocamento entre os diferentes transectos, ou seja, fora do esforço amostral, foram também registrados. Análises de Kernel no software ArcGIS foram realizadas para identificar as áreas com maiores densidades dos cetáceos. Foram registrados 83 avistamentos de botos-vermelhos (englobando 166 indivíduos) e 105 avistamentos de botos-tucuxis (englobando 229 indivíduos). O número de botos-vermelhos variou de um a cinco, com uma média de dois indivíduos (DP = 1,01), enquanto o número de botos-tucuxis variou de um a nove, com uma média de 2,10 indivíduos (DP=1,39). Os registros dos cetáceos distribuíram-se por uma ampla variedade de hábitats: canal principal do rio (n=50), canais secundários (n=43), lagos (n=36), confluências de água (n=26) e remansos (n=1). Houve rarefeita quantidade de registros na região sul do Parque. Isto pode ser explicado por ser a área com menor presença de canais, ilhas, lagos, remansos e confluências, ambientes favoráveis à presença dos cetáceos, sobretudo para os botos-vermelhos. As maiores densidades de registros totais para as espécies foram localizadas no lago Arraia, no paranã Cabuano e seus arredores. No entanto, quando separamos os registros por classe etária, os paranãs Arara e Miritipuca foram as áreas com maiores registros de filhotes e juvenis. Considerando os resultados, sugerimos que atividades humanas diretamente impactantes aos cetáceos, como a pesca ilegal e o turismo embarcado, precisam ser limitadas e ordenadas, especialmente nos locais utilizados para atividades cruciais, como reprodução e cuidado parental. Nosso estudo revela importantes informações sobre o uso do ambiente pelos golfinhos em uma área até então não estudada, um Parque Nacional em um rio de águas pretas na Amazônia Central. Estas informações podem ser utilizadas para comparações com pesquisas realizadas com o boto-vermelho e com o boto-tucuxi em ambientes similares, promovendo melhor conhecimento sobre sua biologia, bem como podem subsidiar a gestão da área protegida em ações conservacionistas relacionadas a estes cetáceos.

Palavras-chave

Inia geoffrensis. Sotalia fluviatilis. Conservação. Uso do ambiente

Financiamento

DIBIO/ICMBio e ao Programa Áreas Protegidas da Amazônia – ARPA

Área

Biologia da Conservação

Autores

Marcelo Derzi Vidal, Fábio Pereira Conceição, Priscila Maria Costa Santos, Marcelo Parise