X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

‘Convivial Conservation’: Uma nova proposta para a Conservação da Biodiversidade

Resumo

<p>A conservação da biodiversidade é condição fundamental de um futuro sustentável, entretanto, as ações realizadas até hoje para este fim, embora tenham alcançado sucesso em áreas específicas, falharam em frear o processo global de perda da biodiversidade. A continuidade dos processos de fragmentação de habitats e a redução na disponibilidade de recursos financeiros em tempos de austeridade global agravam este quadro crítico. Diante deste cenário, faz-se necessária uma transformação nas práticas de conservação. Neste trabalho, buscamos apresentar a concepção de ‘convivial conservation’ como um novo paradigma para a formulação de soluções para conservação da biodiversidade a nível local e global. Esta é uma proposta inovadora elaborada no contexto do projeto “Towards Convivial Conservation: Governing Human-Wildlife Interactions in the Anthropocene”, que conta com pesquisadores de variadas formações acadêmicas e nacionalidades. Através de um esforço interdisciplinar, estes pesquisadores buscam articular quatro estudos de caso que abordam conflitos humano-fauna envolvendo predadores de topo de cadeia, a saber, os leões na Tanzânia; os lobos na Finlândia; os ursos nos Estados Unidos e as onças-pintadas no Brasil. Os estudos de caso baseiam-se na hipótese de que o convívio saudável com predadores de topo – espécies que tendem a ter uma interação conflituosa com populações humanas devido a seus hábitos alimentares e dispersão – pode contribuir de forma significativa para uma transição na direção de uma conservação da biodiversidade mais efetiva e duradoura. A partir destas reflexões, obteve-se como resultado a identificação de lacunas nas duas vertentes de práticas e discursos mais recorrentes para a conservação a nível global. Uma se autointitula ‘new conservation’ e argumenta que as formas convencionais de conservação baseadas na criação de áreas protegidas separadas da população humana é ineficaz e apresenta como solução a intensificação de mecanismos atrelados ao mercado. A outra, chamada de ‘neoprotecionista’, advoga pela ampliação o mais intensa e extensa possível de áreas protegidas restritas para que elas cubram idealmente 50% da superfície terrestre, através do slogan ‘nature needs half’. Ambas as posições colocam pontos importantes: a primeira apresenta o ímpeto de construção paisagens integradas ao invés de restritas e a segunda aborda a crítica das consequências nefastas de um desenvolvimento insustentável. Incorporando os avanços destas perspectivas e indo além das lacunas que apresentam, a nova abordagem leva em conta as pressões estruturais do sistema econômico, bem como o caráter reiteradamente violento de contextos socioecológicos, que têm levado à extinção de espécies e ao escalonamento de práticas políticas autoritárias. Partindo deste pressuposto, a abordagem propõe ações voltadas para a conservação em três eixos: 1) Construção de paisagens integradas; 2) Implantação de arranjos democráticos de governança ambiental; 3) Elaboração de arranjos de financiamento alternativos. Essas ações devem vir alinhadas à identificação das interações humano-fauna virtuosas e ao reconhecimento de causas políticas, sociais e ambientais para interações conflituosas, abrindo caminho para práticas de conservação que incluam justiça socioambiental e proteção de habitats. Esta perspectiva integradora poderia embasar políticas públicas e ações privadas de conservação mais eficazes e duradouras.</p>

Palavras-chave

<p>Conservação da Biodiversidade; Conservação do Convívio; Interação Humano-Fauna; onça-pintada</p>

Financiamento

<p>Belmont Forum e FAPESP.</p>

Área

Biologia da Conservação

Autores

Laila Sandroni, Katia Ferraz, Silvio Marchini, Alexandre Percequillo, Robert Fletcher, Bram Buscher, Robert Coates, Yara Barros, Ronaldo Morato, Rogério Paula, Cíntia Angelieri