X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

LEISHMANIA SPP. EM MORCEGOS (MAMMALIA, CHIROPTERA) DA REGIAO URBANA E PERIURBANA DE CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL

Resumo

Os tripanossomatídeos do gênero Leishmania apresentam ampla distribuição mundial e podem causar infecções naturais em hospedeiros quirópteros. No Brasil foram identificadas ao menos 20 espécies de morcegos parasitados por Leishmania spp., com ocorrência no Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. Em regiões endêmicas para leishmanioses, diferentes espécies podem formar complexas redes de manutenção dos parasitos, como no estado do Mato Grosso do Sul. Entretanto, poucos estudos investigaram a infecção de Leishmania spp. em morcegos nessa região. Portanto, objetivou-se com esse trabalho determinar a ocorrência de Leishmania spp. em morcegos de remanescentes urbanos e periurbanos da cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Foram realizadas 53 noites de captura entre junho de 2017 e janeiro de 2018, com amostragens em sete diferentes remanescentes florestais distribuídos na porção urbana e periurbana do município. Para as capturas foram utilizadas oito redes de neblina de 12,0 x 2,5 m, que permaneceram abertas por 6 horas, resultando em esforço amostral de 76.320 h.m2. Foram coletados até dois indivíduos não reprodutivos de cada espécie por noite de coleta, que foram anestesiados com Ketamina (150 mg/Kg) e Xilazina (15 mg/KG) e em seguida eutanasiados por exsanguinação por punção cardíaca para a coleta de fragmentos de baço. Os procedimentos de coleta e eutanásia foram realizados sob autorizações CEUA/UCDB n° 0006/2017 e SISBIO n° 56804-1. Fragmentos de baço de 237 morcegos foram submetidos a extração de DNA com DNeasy® Blood & Tissue Kit e a Reação em Cadeia da Polimerase para a região do kDNA de Leishmania spp. Os produtos da amplificação foram submetidos à eletroforese a 120V em gel de agarose 2%, o qual foi corado com brometo de etídio e visualizado sob luz ultravioleta. O resultado obtido pelo teste molecular foi de 52 morcegos positivos, com uma frequência de 21,9%. Foram encontrados animais positivos em espécies onívoras: Phyllostomus discolor (1/1; 100,0%); insetívoras: Myotis nigricans (3/5; 60,0%); nectarívoras: Glossophaga soricina (6/16; 37,5%); e frugívoras: Platyrrhinus lineatus (12/37; 32,4%), Sturnira lilium (2/8; 25,0%), Carollia perspicillata (9/43; 20,9%), Artibeus planirostris (10/49; 20,4%) e Artibeus lituratus (9/68; 13,2%). As espécies mais abundantes na amostragem e consequentemente mais amplamente avaliadas (A. lituratus, A. planirostris e C. perspicillata) apresentaram as menores frequências de infecção, enquanto espécies pouco amostradas (P. discolor e M. nigricans) apresentaram as maiores frequências que podem não representar a extensão real da infecção em suas populações. Todas as espécies de morcegos positivas já foram anteriormente detectadas com DNA de Leishmania no Brasil, porém as espécies M. nigricans e S. lilium foram relatadas com parasitos desse gênero somente em regiões de Mata Atlântica, sendo agora reportadas com Leishmania spp. também no Cerrado do Centro-Oeste brasileiro. A frequência de animais positivos no diagnóstico molecular foi superior ao relatado em outras localidades do Brasil, o que é esperado devido ao endemismo das leishmanioses na região estudada, que concentra elevada abundância de vetores do agente causador da Leishmaniose VIsceral (Lutzomyia longipalpis), elevada incidência de casos em humanos e cães, além do registro de Leishmania spp. em espécies sinantrópicas como Didelphis albiventris.

Palavras-chave

Enzootia, Phyllostomidae, Vespertilionidae

Financiamento

Chamada Universal– MCTI/CNPq Nº 14/2016

Área

Parasitologia/Epidemiologia

Autores

Jaire Marinho Torres, Gabrielly Moreira dos Santos de Oliveira, Geiza Thaiz Dominguez Monje, Ana Luísa Santana Loureiro, Carina Elisei de Oliveira