Dados do Trabalho
TÍTULO
CONSERVAÇAO DE MAMIFEROS AMEAÇADOS DE EXTINÇAO NO CORREDOR DE BIODIVERSIDADE DA SERRA DO MAR: INTEGRANDO ECOLOGIA E DIMENSOES HUMANAS
Resumo
Por ser uma região estratégica para a conservação, o Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar (CBSM), requer uma estratégia de ação que integre diversidade biológica, dimensões humanas e planejamento. Este estudo teve como objetivo investigar aspectos ecológicos (dieta, distribuição, uso de habitat, riqueza) da comunidade de mamíferos de médio e grande porte, avaliar ameaças à biodiversidade e dimensões da interação humano-fauna (cognições e sentimentos em relação à fauna, e aceitação das alternativas de manejo entre diferentes grupos sociais interessados) em nove Áreas Protegidas (APs) (Parque Nacional, Parques Estaduais, Reservas Particulares do Patrimônio Natural e Reservas Privadas), no período de 2015 a 2019. O armadilhamento fotográfico totalizou um esforço amostral de 31.365 câmeras/dia, 309 pontos amostrais em aproximadamente 309 Km2, com 35 espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas. A coleta de fezes (850 km percorridos) e pelos (N=41) resultou em 26 espécies amostradas e 126 amostras de pelos foram analisadas por isótopos estáveis. As atividades de coleta aliadas à exploração piloto em algumas áreas permitiram o desenvolvimento de um banco de dados geral para a frente de dimensões humanas com 161 questões. Das 41 espécies de mamíferos amostradas no CBSM, oito apresentam algum grau de ameaça de extinção no Brasil. Dessas, a anta e o queixada foram as mais frequentemente detectadas em 58% e 30% dos pontos amostrais de armadilhamento fotográfico, e as menos detectadas foram a onça-pintada (0,004%) e o cachorro-vinagre (0,009%). Os gatos do-mato-pequeno ou maracajá foram detectados em 34% dos pontos, a onça-parda em 21% e o gato-mourisco em 7,7%, sendo que todas as espécies apresentaram variações de ocorrência entre as áreas. Registramos um elevado consumo de grandes vertebrados pela onça-parda, padrão semelhante à onça-pintada. A ecologia isotópica mostrou que os mamíferos do CBSM dependem dos recursos florestais, com pouca influência de áreas antrópicas, e apresentando estrutura trófica complexa, similar ao que é esperado para áreas prístinas. As principais ameaças à biodiversidade identificadas no CBSM foram: extração de palmito, caça ilegal, conflito humano-fauna em áreas de fruticultura e pastagem, e ocupação irregular nas APs. As motivações pessoais e contextuais por trás de cada ameaça variam entre os grupos sociais e uso da terra (ex. pecuária versus agricultura), e esses resultados servirão para a elaboração de estratégias mais eficazes de comunicação e mudança de comportamentos. Apesar da área representar o maior contínuo de Mata Atlântica, resultados acerca da conectividade funcional, utilizando análise genética, indicam menor fluxo gênico entre algumas APs, sugerindo menor conectividade funcional entre as áreas ao sul e ao norte do corredor. Os resultados obtidos até o momento, permitem descrever e atualizar dados de ocorrência, distribuição e riqueza de mamíferos de médio e grande porte em áreas protegidas, contribuindo com aspectos de história natural, comportamento e ecologia das espécies; e devem em breve viabilizar a coexistência humano-fauna, colaborando na gestão e planejamento da conservação ao longo de um dos maiores de remanescentes de Mata Atlântica do Brasil.
Palavras-chave
Áreas Protegidas, armadilhamento fotográfico, conservação da biodiversidade, Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, dimensões humanas, planejamento para conservação.
Financiamento
Fundação O Boticário e FAPESP
Área
Biologia da Conservação
Autores
Katia Maria P. M. B. Ferraz, Mariana Landis, Roberta Montanheiro Paolino, Marcelo Magioli, Silvio Marchini, Leticia Prado Munhões, Bruno Saranholi, Roberto Fusco-Costa, Yuri Geraldo G Ribeiro, Cintia Camila S Angelieri, Marcelo Z Moreira, Adriano Chiarello, Pedro M Galetti Junior, Mauro Galetti