Dados do Trabalho
TÍTULO
DIETA DA ONÇA-PARDA (PUMA CONCOLOR) EM UMA AREA DE RESTAURAÇAO ECOLOGICA
Resumo
A onça-parda (Puma concolor) vem ocupando a posição de predador de topo em grande parte da Mata Atlântica, onde a onça-pintada (Panthera onca) está localmente extinta, devido à caça, à perda e fragmentação de habitat e à pressão antrópica. Pelo fato desse bioma ser composto por pequenos remanescentes florestais imersos em paisagens modificadas, a diversidade e a disponibilidade de presas podem ser drasticamente afetadas, fazendo com que o estudo de hábitos alimentares seja essencial para determinar o papel funcional dos predadores, bem como seu impacto sobre as populações de presas. Portanto, este estudo teve por objetivo descrever e quantificar a dieta da onça-parda em uma área de restauração ecológica inserida em uma paisagem modificada da Mata Atlântica. A área amostrada foi o Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica – HEINEKEN Brasil (~500 ha), localizado no município de Itu, no interior de São Paulo. A área é composta por pequenos remanescentes florestais, nativos e em processo de restauração ecológica com espécies nativas, sendo os plantios de idades variadas. Entre agosto de 2016 e dezembro de 2018, foram coletadas amostras fecais de onça-parda (N = 30) em trilhas e estradas de terra na área amostrada, com esforço amostral total de 285 km percorridos. Após a coleta, as amostras foram triadas e identificadas, sendo que 21 amostras foram analisadas até o momento. Durante o processo de triagem, separamos itens alimentares como pelos, ossos, dentes e penas. Para identificação do predador e das presas (mamíferos), analisamos a microestrutura dos pelos (cutícula e medula); as aves não puderam ser identificadas em nível de espécie. Como forma de análise de dados, calculamos a porcentagem de ocorrência e a biomassa relativa consumida das presas na dieta da onça-parda. As presas foram classificadas em pequenos (< 1 kg), médios (entre 1 e 7 kg) e grandes (> 7 kg) vertebrados. Observamos o consumo predominante de grandes vertebrados (76,2%), seguido por pequenos (14,3%) e médios vertebrados (9,5%), sendo os mamíferos predominantes na dieta. Dentre os grandes vertebrados, destacam-se a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) (47,6%), o veado-catingueiro (Mazama cf. gouazoubira) e a paca (Cuniculus paca) (ambos com 14,3%). As presas de médio porte foram o mão-pelada (Procyon cancrivorus) e a irara (Eira barbara) (ambas com 4,8%), e os pequenos vertebrados incluíram roedores (9,5%) e aves (4,8%). Os grandes vertebrados contribuíram com 94,8% da biomassa relativa consumida, com destaque para a capivara, que representou 68,6% de toda biomassa consumida. A dieta da onça-parda na área amostrada apresentou um elevado consumo de grandes mamíferos, confirmando a onça-parda no papel de predador de topo. Além disso, esse padrão alimentar em uma área de restauração ecológica indica que essa área pode sustentar populações deste grande predador, bem como de suas principais presas, destacando a importância da área como refúgio para espécies da fauna no contexto regional.
Palavras-chave
Mamíferos, tricologia, ecologia trófica.
Financiamento
SOS Mata Atlântica
Área
Ecologia
Autores
Julia Bellucco Cruz , Marcelo Magioli, Vinicius Alberici, Aretha Medina Oliveira Marin, Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz