X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

ESQUECERAM DE AVISAR OS RATOS! EFEITOS DA FRUTIFICAÇAO DO BAMBU SOBRE OS PEQUENOS MAMIFEROS NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE, RJ

Resumo

Os bambus produzem flores e frutos em ciclos que podem variar de 10, 20 ou mais anos. A frutificação é maciça e sincrônica entre os membros da espécie. Durante esses períodos de produção de sementes, ocorre um fenômeno biológico conhecido como “ratada”, que se caracteriza por um aumento populacional exacerbado de roedores na região. O objetivo deste trabalho foi acompanhar a frutificação do bambu do gênero Merostachys (Poaceae) e seu possível efeito na abundância dos pequenos mamíferos na Ilha Grande. A ilha possui uma área de 193 km2 coberta por Mata Atlântica. Nós realizamos campanhas regulares para acompanhar a população de pequenos mamíferos em duas parcelas de distribuição uniforme RAPELD, nas quais L1_2500 apresenta moitas de bambu distribuídas por toda a parcela, ao passo que L2_1500 não apresenta ocorrência de bambu, funcionando assim como controle. Em ambas as parcelas os animais foram capturados utilizando 25 armadilhas de captura viva, sendo 13 Tomahawks e 12 Shermans dispostas no solo em um transecto de 250m. Foram realizadas 11 campanhas de maio/2017 a maio/2018, de três noites de duração cada. Outras campanhas foram realizadas antes (maio/2014 a janeiro/2017) e depois (outubro/2018 a março/2019) da frutificação do bambu. A produção de sementes foi quantificada a partir de 25 coletores dispostos a cada 10m e seu conteúdo coletado no último dia de cada campanha. Nós avaliamos através de uma regressão simples se houve um aumento no sucesso de captura das espécies com relação à frutificação do bambu com zero, um, dois, três e quatro meses de timelag. Avaliamos também o sucesso de captura das espécies entre as duas parcelas estudadas nos períodos antes, durante e depois da frutificação do bambu, bem como a interação entre parcela e frutificação através de uma ANOVA de dois fatores. As análises foram feitas com as espécies mais abundantes de pequenos mamíferos nas duas parcelas: Didelphis aurita (N=21), Marmosops incanus (N=11) (Didelphimorphia), Trinomys iheringi (N=28), Oxymycterus dasytrichus (N=11) e, Euryoryzomys russatus (N=19) (Rodentia). Coletamos 1649 sementes de bambu, sendo a campanha de junho a que apresentou a maior frutificação. Apesar do sucesso de capturas ter diferido entre parcelas e entre períodos de frutificação do bambu, não houve interação entre parcelas e frutificação, indicando que a maioria das espécies não respondeu à frutificação, mas como resposta a outras flutuações. Apenas O. dasytrichus respondeu significativamente à frutificação do bambu, mas com 4 meses de timelag (r2=0,944; N=8; F=49,483; p<0,001).  Estudos indicam que espécies pertencentes à subfamília Sigmodontinae como Delomys spp, Oligoryzomys spp, Akodon spp respondem à frutificação de bambus. Nesse estudo, apesar de termos registrado Oligoryzomys nigripes e Euryoryzomys russatus, apenas O. dasytrichus  apresentou aumento de abundância em relação à frutificação. Essa espécie apresenta hábito preferencialmente insetívoro, sendo o aumento populacional um provável efeito secundário ao aumento de artrópodes devido à disponibilidade de sementes de bambu no solo. A ausência da ratada pode ser explicado pelo fato de espécies comuns a ratadas em outras partes da América do Sul como Delomys spp e Akodon spp, não ocorrerem na Ilha Grande. 

Palavras-chave

Ratada; Roedores; RAPELD; América do Sul

Financiamento

FAPERJ (E-26/202.757/2017), CNPq (307781/2014-3) e Prociência/UERJ

Área

Ecologia

Autores

Paula Diniz Ferreira de SOUZA, Elizabete Captivo Lourenço, Luciana de Moraes Costa, Maria Carlota Enrici, Maja Kajin, Helena Godoy Bergallo