X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

MONITORAMENTO DA QUIROPTEROFAUNA ATROPELADA NA REGIAO SUDESTE DO BRASIL

Resumo

Como uma característica cada vez mais dominante na paisagem, os corredores de transporte estão se tornando uma grande preocupação para os morcegos. Os possíveis efeitos das estradas na vida selvagem incluem a mortalidade por colisão de veículos, destruição e fragmentação de habitats, efeito barreira, efeitos de borda e degradação do habitat ou distúrbios causados pela poluição luminosa, sonora e química. Alguns estudos indicam que indivíduos de espécies que normalmente voam a uma altura mais baixa são mortos com maior frequência. Os principais objetivos do nosso estudo foram registrar as colisões contra veículos por quirópteros na rodovia BR-040 e identificar as espécies, sexo e idade desses indivíduos que são mais propensos a serem mortos e evidenciar os fatores mais importantes que podem vir a influenciar o atropelamento de morcegos e, assim, fornecer informações para a implementação de medidas de mitigação eficientes. Os dados foram compilados no período de 2008 a 2019 na rodovia BR-040, abrangendo nove municípios, do Rio de Janeiro a Juiz de Fora. Os trechos foram percorridos semanalmente a 40km/h com dois observadores, além do monitoramento 24h pelos inspetores de tráfego da rodovia. As carcaças localizadas foram georeferenciadas, fotografadas e identificadas. Neste estudo, foram incluídos apenas indivíduos em bom estado de conservação que puderam ser identificados até ordem. Um total de 923 indivíduos pertencentes a 57 espécies de quirópteros foram registrados durante o monitoramento. As famílias identificadas foram Emballonuridae, Phyllostomidae, Noctilionidae, Molossidae e Vespertilionidae. As espécies com maior frequência de colisões foram Artibeus lituratus (n=216 ; 23,4%), Glossophaga soricina (n=61; 6,61%), Carollia perspicillata (n=55; 5,96%), Platyrrhinus recifinus (n=46; 4,98%), Sturnira lilium (n=41; 4,44%), Platyrrhinus lineatus (n=40; 4,33%), Phyllostomus hastatus (n=38; 4,12%), Nyctinomops laticaudatus (n=33; 3,58), Artibeus fimbriatus e Anoura caudifer com 31 registros (3,36%) cada, as demais espécies tiveram menos de 20 registros cada e 151 (16,36%) indivíduos só puderam ser identificados ao nível da ordem Chiroptera. Foram identificados 394 (42,69%) indivíduos adultos, 13 (1,41%) jovens, 148 (16,03%) machos e 157 (17,01%) fêmeas, alguns indivíduos foram classificados em indeterminado quando não foi possível observar sua faixa etária ou sexo. Durante as estações também teve uma diferença na frequência das colisões, sendo a maior de 330 (35,75%) no outono, 251 (27,19%) no verão, 217 (23,51%) no inverno e 125 (13,54%) na primavera. Dependendo de suas estratégias de forrageio, diferentes espécies de morcegos podem ser diferentemente impactadas pela fragmentação de habitats por uma rede de rodovias. Ainda não somos capazes de prever locais exatos onde os morcegos possam ser particularmente ameaçados ou as espécies que possam estar em maior risco. Os frugívoros foram os mais frequentes (52,87% do total), provavelmente por alguns fatores associados, como a altura de voo, padrões de deslocamento no forrageamento, distribuição temporal e espacial dos frutos das plantas utilizadas e a estrutura da paisagem. Nossos resultados sugerem que provavelmente os morcegos sejam particularmente vulneráveis ao impacto de estradas e demorem a se recuperar de perturbações devido à sua estratégia de vida de baixa fecundidade, longevidade e uso de grandes áreas da paisagem.

Palavras-chave

Conservação; Ecologia de estradas; Fauna atropelada.

Financiamento

Universidade Veiga de Almeia e Concer.

Área

Ecologia

Autores

Marcione Brito Oliveira, Isabella Cristina Lacerda Serpa, Cecília Bueno