X CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOZOOLOGIA

Dados do Trabalho


TÍTULO

OS EFEITOS DA COMPOSIÇAO E CONFIGURAÇAO DA PAISAGEM NAS COMUNIDADES DE MAMIFEROS: UMA ABORDAGEM MULTIESCALA

Resumo

A conversão de habitats nativos em antrópicos compromete tanto a composição quanto a configuração original das paisagens, causando efeitos ambivalentes na biodiversidade por influenciar diferentes dinâmicas ecológicas. Entretanto, esses efeitos podem não ser compreendidos se acessados em escalas espaciais inadequadas. Assim, identificar a escala de efeito em que cada variável da paisagem influencia as respostas das espécies é relevante para entender como as paisagens modificadas afetam a biodiversidade. Neste estudo, nós avaliamos como três variáveis de composição da paisagem (proporção de floresta, de cafeicultura e de pastagem) e duas de configuração (número de fragmentos e distância média entre os fragmentos) interferem na riqueza e composição de mamíferos de médio e grande porte considerando uma abordagem multiescala. Nós investigamos as comunidades de mamíferos de médio e grande porte em 13 paisagens de 1267 hectares com matrizes predominantemente de cafeicultura e pastagem no Sul de Minas Gerais. Para registrar as espécies, nós instalamos uma câmera trap em um fragmento florestal no centro de cada paisagem por quatro meses consecutivos. Primeiro, nós avaliamos a riqueza local e a regional de espécies e construímos, respectivamente, curvas de acumulação e curva de rarefação, para avaliar se o esforço amostral foi suficiente. Então, para identificar a escala de efeito de cada variável da paisagem para cada variável resposta, nós construímos modelos lineares baseados em distância (DistLM) considerando as oito escalas avaliadas (de 250 a 2000 m, com variação de 250 m) e selecionamos a escala do modelo com o maior valor de R². Por último, verificamos a influência da paisagem na riqueza e composição de mamíferos a partir de DistLM, considerando as variáveis da paisagem em suas respectivas escalas de efeito. Verificamos que o esforço amostral foi suficiente e mantivemos a riqueza de espécies observada, tanto a local quanto a regional. A riqueza local está depauperada (perda de 38 a 78% de espécies quando comparada com riqueza regional observada) e a riqueza regional representa 67% das espécies prováveis de ocorrer na região. As escalas de efeito variaram de 250 a 1500 m para as variáveis de composição e de 500 a 2000 m para as de configuração da paisagem, considerando as duas variáveis respostas analisadas. A proporção de pastagem na paisagem explicou a variação da riqueza de espécies (R²-ajustado=0,33), enquanto a proporção de floresta explicou a variação da composição de espécies (R²-ajustado=0,08). Além disso, a proporção de pastagem na paisagem teve uma influência positiva na riqueza de espécies, indicando que essa matriz pode favorecer a presença de espécies generalistas e/ou esse resultado se deve à maior concentração de espécies nos fragmentos imersos nessa matriz. Esses resultados sugerem que considerar diferentes respostas da biodiversidade é importante para entender diferentes aspectos da influência da paisagem na biodiversidade. Além disso, a composição da paisagem é fundamental para a perpetuação das espécies e, por isso, tanto a cobertura florestal quanto as matrizes devem ser consideradas para aprimorar estratégias de conservação de espécies. Por fim, generalizar uma escala espacial pode levar a interpretações errôneas sobre a influência da paisagem na biodiversidade.    

Palavras-chave

Matriz, escala de efeito, perda de habitat, fragmentação de habitat.  

Área

Ecologia

Autores

Rayssa Faria Pedroso, Mateus Melo-Dias, Marcelo Passamani